Há 10 anos, Fidel Castro renunciou após comandar Cuba por quase meio século
Por mais de 49 anos, Fidel Alejandro Castro Ruz esteve à frente do poder em Cuba. Mas, sem ter mais condição física, aos 81 anos, o ditador anunciou a renúncia à presidência do Conselho de Estado (equivalente à Presidência da República) e ao posto de comandante em chefe das Forças Armadas, no dia 19 de fevereiro de 2008.
Na época, Fidel era o governante, no mundo, que estava havia mais tempo no poder, sem contar com os monarcas.
Quando decidiu deixar os cargos, ele já estava afastado, por causa da sua saúde, do comando do país de fato. No final de julho de 2006, havia se submetido a uma cirurgia no intestino e continuava a buscar a sua reabilitação. Desde a operação até a renúncia, não havia comparecido a nenhuma cerimônia pública.
Para informar a decisão de sair do poder, escreveu uma mensagem , publicada no jornal oficial “Gramma”. “Não me despeço de vocês. Desejo combater apenas como soldado das ideias. Continuarei escrevendo sob título ‘Reflexões do companheiro Fidel’. Será uma arma a mais com que poderemos contar em nosso arsenal. Talvez minha voz seja escutada. Serei cuidadoso.”
No texto, Fidel citou o arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer: “Penso, como Niemeyer, que é preciso ser consequente até o final”, escreveu. Niemeyer gostou. “Ele foi generoso. Me agradou. Mas o mais importante é o pronunciamento dele de que continuará ao lado do povo cubano de acordo com suas possibilidades físicas”, disse o brasileiro.
O irmão de Fidel, Raúl Castro, foi o quem o substituiu. Primeiro, temporariamente. Depois, como titular. No dia 24 de fevereiro de 2008, Raúl foi eleito para presidir o país em votação na Assembleia Nacional Popular. Fidel não foi à Assembleia, mas enviou o seu voto por escrito. Em seu discurso, Raúl afirmou que seu irmão “seria consultado sempre”. No final do encontro, todos gritaram “Viva Fidel”, conforme relatou a reportagem da Folha.
Depois da renúncia, Fidel viveu por mais oito anos e morreu no dia 25 de novembro de 2016, aos 90 anos.
Fidel foi líder da Revolução Cubana, derrubando o ditador Fulgencio Batista, que fugiu do país no dia 1º de janeiro de 1959. Em fevereiro, o revolucionário tornou-se primeiro-ministro e assumiu o controle de Cuba.
No poder, nacionalizou empresas americanas, incluindo refinaria. Fidel declarou Cuba como um Estado socialista em 16 de abril de 1961 –um dia depois, começou a fracassada invasão da baía dos Porcos, promovida por exilados cubanos e apoiada pela CIA, a agência de inteligência dos EUA. Em fevereiro de 1962, EUA declaram embargo econômico total à Cuba.
O cargo de primeiro-ministro de Cuba deixou de existir em 1975, e Fidel passou a acumular as funções do Conselho de Estado e comandante das Forças Armadas, comandando o país.
“Apesar de bons indicadores sociais –baixa mortalidade infantil, altos índices de alfabetização–, a Cuba de Fidel constitui unanimidade nos relatórios de entidades de direitos humanos, que condenam o regime pela falta de liberdades política e de expressão e pela repressão aos dissidentes internos”, diz trecho da reportagem da Folha, sobre a sua renúncia.
Na época em que Fidel saiu do poder, organizações de direitos humanos estimavam em mais de 200 os presos políticos (o número de detentos e a aplicação da pena de morte não eram divulgados).