Começou há 25 anos o cerco de Waco, que deixou cerca de 80 mortos
Agentes do governo federal dos Estados Unidos e policiais do Texas iniciaram no dia 28 de fevereiro de 1993 um cerco em torno da sede da seita Ramo Davidiano, na cidade de Waco, que terminou de forma trágica, no dia 19 de abril, com um grande incêndio e com a morte de cerca de 80 pessoas.
O cerco começou depois de uma ação malsucedida de agentes do ATF (Bureau of Alcohol, Tobacco, and Firearms), órgão responsável pela aplicação das leis relativas ao álcool, tabaco, armas de fogo e explosivos. Eles foram à sede da seita confiscar armas ilegais. Mas, ao chegar ao local, encontraram resistência e houve troca de tiros.
Nessa ação, morreram quatro agentes e 20 ficaram feridos. Também houve baixas com integrantes da seita, mas o número não foi revelado.
A estimativa era que mais de cem pessoas (entre homens, mulheres e crianças) estariam dentro da sede e que abrigavam lá quase 250 armas.
“Eles tinham mais e melhores armas do que nós”, afirmou o porta-voz do ATF, Sharon Wheeler, na época, em declaração publicada pela Folha, no dia 2 de março de 1993.
A reportagem sobre o incidente informou que a seita era uma dissidência da Igreja Adventista do Sétimo Dia, fundada em 1934, e que tinha cerca de 3.000 seguidores nos Estados Unidos. Seu líder era Vernon Howell, que decidiu mudar de nome para David Koresh. Ele pregava que era reencarnação de Jesus Cristo.
O líder afirmou que todas as armas que estavam em sua comunidade eram legais e que não havia justificativa para a invasão em sua sede. Por isso, resolveu contra-atacar.
Depois do confronto, eles acertaram um cessar-fogo para retirar os corpos dos agentes e os feridos. Uma negociação foi aberta.
Conforme a reportagem do dia 4 de março, Howell afirmou que não se entregou porque Deus havia lhe dito para esperar por instruções. Também falou que sua filha de dois anos havia morrido no confronto e que ele tinha ferimentos na barriga e na perna.
Ele até havia prometido se render se uma mensagem dele de 58 minutos fosse transmitida pelas principais rádios do Texas. A radiação foi feita, mas a promessa não foi cumprida.
A mãe de Howell, Bonnie Haldeman, tentou conversar pessoalmente com o filho, mas a polícia não o autorizou. “Eu acho que ele pode estar muito ferido. A infecção pode ter tomado conta de seu corpo e ele pode não estar mais pensando direito”, disse.
Durante as negociações, 20 crianças foram liberadas. Duas mulheres, que também saíram da sede, afirmaram que os membros da seita tinham estoques de alimentos para cinco anos e estavam fortemente armados.
A tentativa da invasão dos agentes foi muito criticada no país e havia suspeita de que Howell soubesse com antecedência da ação e havia se preparado.
Durante o cerco, policiais colocaram músicas estridentes em alto-falantes para tentar enervar Howell e seus seguidores que continuavam entrincheirados na sede.
Apesar da tática, o porta-voz do FBI (a polícia federal dos Estados Unidos), Jeffrey Jamar, previa que a negociação seria longa, sugerindo que os repórteres deslocados a Waco alugassem casas ali.
O cerco realmente foi longo, e não acabou bem.
Após 51 dias de cerco, um incêndio atingiu o local seis horas depois de veículos blindados terem iniciado um ataque para abrir buracos nas paredes da sede. O objetivo era injetar um gás para forçar a rendição. Segundo as autoridades policiais, o incêndio foi iniciado dentro da sede, e o FBI classificou o ato como um suicídio coletivo.
Apenas, dez homens e uma mulher conseguiram escapar.
A secretária da Justiça, Janet Reno, assumiu a responsabilidade pela ação. “Obviamente, se eu tivesse achado que havia grandes chances de suicídio em massa, eu jamais teria aprovado o plano”, afirmou.
O presidente Bill Clinton divulgou uma mensagem em que se dizia profundamente entristecido pelas mortes, mas defendeu Janet Reno e o FBI.
Policiais do FBI apontaram que alguns corpos foram encontrados com marcas de tiros, mas legistas contestaram essa informação. Depois, foi identificado que Howell morreu com um tiro na cabeça, e não queimado. Alguns dos sobreviventes também alegaram que o fogo foi provocado pelos policiais durante o ataque dos veículos blindados contra o prédio, diferentemente da versão de suicídio.
O caso do cerco de Waco e o mistério que o envolve acabaram inspirando produções no cinema e na TV.