Ação de advogado negro tirou prisioneiro do corredor da morte em 1993
O dia 2 de março de 1993 expôs duas faces do racismo nos EUA.
Isso porque, enquanto a primeira referia-se à população do estado da Califórnia ainda repercutindo os resultados da série de protestos violentos após o julgamento e a absolvição dos policiais que espancaram o taxista negro Rodney King, em abril de 1992, a segunda pautava-se pela Justiça dos EUA libertando o afroamericano Walter McMillian, numa tentativa de amenizar um processo marcado por controvérsias.
A soltura de McMillian, que já estava no corredor da morte havia seis anos, só foi possível com a atuação do advogado Bryan Stevenson.
Acusado e condenado à morte em 1988, pelo assassinato da jovem branca Ronda Morrison, 18, em 1 de novembro de 1986, McMillian viu Stevenson reverter sua situação, com a anulação do julgamento e a soltura do prisioneiro.
Stevenson, fundador da Equal Justice Initiative, organização sem fins lucrativos do Alabama que defende os condenados à morte que não têm advogados, revelou que as provas contra seu cliente eram falsas e que os depoimentos das testemunhas foram obtidos por meio de coerção e métodos violentos adotados pelas autoridades do Alabama.
“Eu acho que todo mundo precisa entender o que aconteceu, porque o que aconteceu hoje pode acontecer amanhã se não aprendemos algumas lições com isso”, disse Stevenson em reportagem no New York Times.
A batalha de Stevenson pela liberdade de Walter McMillian está registrada em seu livro “Just Mercy: A Story of Justice and Redemption”, publicado em 2014, e será contada no filme “Just Mercy”, da Warner Bros. De acordo com o site Variety, a película deve ser rodada em 2018 e terá o ator de “Pantera Negra”, Michael B. Jordan, no papel de Bryan Stevenson.
No dia da libertação de McMillian, o jornal The New York Times publicou: “Se Walter McMillian também foi colocado no corredor da morte por ser um homem negro que violou os tabus raciais e sexuais da pequena cidade do Sul, é apenas uma das questões que gira em torno de um caso que evocaram questões muito mais amplas de raça e justiça.”
McMillian, que tinha álibis consistentes –estava numa igreja no momento em que o crime foi cometido e tinha pelo menos 12 testemunhas que atestavam isso–, sempre afirmara que foi condenado pelo fato de a sociedade não aceitar que ele, negro, se relacionava com uma mulher branca.
Apesar de a liberdade ter mostrado uma face nefasta do sistema judicial dos EUA, ela nunca conseguiu fazer com que McMillian, que era um pequeno empresário do ramo do papel, tivesse justiça, já que não conseguiu indenização e ainda passou a sofrer com processo de demência, sequela do tempo em que ficou no corredor da morte.