Primeira tirinha da Mônica na Folha completa 55 anos

Exposição Turma da Mônica
Cristiano Cipriano Pombo

Em 3 de março de 1963, o título da tirinha publicada na Ilustrada era “Cebolinha”. Mas quem fez estreia com personalidade foi Mônica.

A personagem baixinha, dentuça e gordinha já tinha aparecido na capa da Folha em 11 de fevereiro daquele ano, segurando seu coelho, que só ganhou nome de Sansão em 1983 –num concurso feito com crianças.

Primeira aparição de Mônica nas páginas da Folha de S.Paulo, em fevereiro de 1963

Mas a estreia oficial em tirinhas se deu há exatos 55 anos. 

Inspirada em Mônica Spada e Sousa, filha do cartunista Mauricio de Sousa, a personagem não abriu a boca em sua primeira aparição em tirinhas, mas executou o gesto que viraria marca nestes 55 anos de existência: a coelhada na cabeça do Cebolinha.

Primeira aparição de Mônica em tirinhas da Folha, em 3 de março de 1963

Em 2013, em comemoração dos 50 anos da primeira vez de Mônica nos jornais, a Folhinha publicou um especial sobre a personagem. Mostrou como, ao longo dos anos, ela mudou muito, do sapato ao cabelo e, principalmente, a fisionomia, deixando para trás a cara de brava que a caracterizou desde o nascimento.

 

Infográfico da Folha publicado em 2013 mostra evolução da personagem Mônica

Nesse especial a Folhinha também trouxe uma entrevista com a filha de Maurício de Sousa, realizada pelo repórter Bruno Molinero e que você confere abaixo.

Folha – Sua relação com a Mônica sempre foi boa?

Mônica – Enquanto era pequena, foi ótimo. Acompanhava meu pai nos programas de TV, o [cantor] Jair Rodrigues me pegou no colo, a [cantora] Elis Regina me levou ao banheiro. Mas, na pré-adolescência, não gostava mais de ter inspirado a Mônica. Tiravam sarro de mim na escola.

Você sofria bullying por causa da Mônica?
Não, porque eu sabia me defender. Acho que a criança precisa aprender a reagir. Afinal, ela vai sofrer esse tipo de situação durante a vida inteira. Se a criança ficar em uma bolha, vai ser pior para ela.

Sua reação era dar coelhada nos amigos da escola?
Eu ficava brava, mas não batia neles. Mas, com as minhas irmãs em casa, eu era mais parecida com a Mônica personagem. Eu dava mesmo!

Com qual irmã brigava mais?
Com a Mariângela, a mais velha. Era quase todo dia. Com a Magali eu quase não brigava.

Por que não?
Eu era a segunda filha, a filha “sanduíche”. Acho que tinha ciúme da Mariângela. E ela era muito chorona. Eu aproveitei dessa fraqueza para provocá-la. Se ela começasse a chorar, eu implicava mais ainda [risos].

Seus filhos também são briguentos?
Hoje, minha filha Carol tem 30 anos. Mas, quando criança, ela foi a Mônica: batia em todo mundo. Era um doce, mas se implicasse com alguma coisa, pum! Batia. Perdi até alguns amigos por causa dela.

Sua filha não quis ter uma personagem inspirada nela, como você?
Meus filhos são frustrados porque não têm um personagem. Fica o apelo para o meu pai: Faça um personagem para eles! Assim param de falar na minha orelha sobre isso.

E quando sua filha descobriu que a mãe dela era a Mônica? Qual foi a reação?
Ela não percebia que a mãe era a personagem Mônica. Até que um dia, na escola, alguém contou. Ela chegou em casa e disse: “Mãe, estão falando que você é a Mônica.” Ela devia ter uns quatro ou cinco anos na época. Quando contei que a personagem tinha sido mesmo inspirada em mim, ela respondeu: “Não acredito em você. A Mônica é a Mônica” [risos].

E tinha outro problema. Quando meus filhos ligavam para mim no trabalho [na Mauricio de Sousa Produções], a telefonista pensava que eles queriam falar com a personagem. Minha filha ficava muito brava. “Não! Eu quero falar com a minha mãe!”

Como foi a descoberta de que você era a Mônica dos quadrinhos?
Lembro que disse: “Olha, pai, disseram que eu sou a Mônica das tirinhas”. Ele sentou comigo e me explicou que eu realmente tinha inspirado a personagem. Depois disso, quando meu pai me apresentava aos amigos, ele sempre falava: “Essa é a Mônica, a personagem”. Isso virou uma confusão na minha cabeça. Hoje já aceitei que sou a Mônica da revistinha. Todo mundo me vê assim.

E você é mesmo igual à personagem?
Não, ela é igual a mim!

O que acha da Mônica Jovem?
Não interfiro nem acompanhei sua criação. Mas não me casaria com o Cebolinha [risos]. Impliquei com o cara a vida inteira!

Como a Mônica estará daqui a 50 anos?
Acho que ela vai evoluir de acordo com a criança da época. Mas sem ser chata, porque o politicamente correto é muito chato também. Sou totalmente contra. Se a criança é politicamente correta, ela quer agradar aos pais e aos adultos. No fundo, ela não é assim.

O mundo está exageradamente politicamente correto?
Sim. Se uma criança joga papel no chão, por exemplo, logo ouve da mãe: “Nossa, não esperava isso de você”. Ela está recebendo um castigo muito maior do que uma palmada, porque está decepcionando a mãe dela.