Zico chega aos 65 anos com aventuras de Quintino ao Iraque para contar

Atuar pelo Flamengo em mais 700 jogos. Liderar em campo a seleção brasileira da Copa de 1982. Retomar a carreira como jogador,  aos 38 anos, para tentar popularizar o futebol no Japão. Virar treinador do Iraque, mesmo com os graves problemas de segurança no país.

Essas foram algumas das aventuras que Arthur Antunes Coimbra, o Zico, encarou ao longo dos seus 65 anos, completados neste sábado (3 de março).

Nascido em Quintino, na zona norte do Rio de Janeiro, ele recebeu ainda criança o apelido de “galinho”. O motivo era que ele comemorava os gols do time do irmão Antunes gritando “có-có-ri-có”.

Suas peripécias no futebol ganharam destaque nas categorias de base do Flamengo. No entanto, seu porte físico, muito franzino, não lhe ajudava.

“Senti que Zico tinha todas as qualidades para ser um craque de gabarito. Mas seu físico era uma tragédia. Decidi então submetê-lo a um tratamento especial para que desenvolvesse maior estrutura óssea e ganhasse mais oxigenação na musculatura”, afirmou o preparador físico Francalacci, em 1976.

Início

Como jogador profissional, a sua estreia foi com apenas 18 anos, em uma vitória sobre o Vasco por 2 a 1.  Ele usou a camisa 9 e jogou como ponta direita.

O sucesso veio rápido. Aos 22 anos, ele já era apontado como ídolo, e o técnico flamenguista Joubert enfatizava que o jovem era disciplinado, obediente taticamente e que não queria receber nenhum privilégio.

“O Zico tem ótimo controle, é inteligente e gosta de treinar. Além dos gols, cria jogada para todo o time”, declarou Joubert, em 1975. Mas ele destacou uma preocupação: “Só tenho uma restrição ao seu estilo. Aceita o jogo duro e machuca-se muito. Tenho recomendado a ele que procure evitar as entradas dos zagueiros”.

Seleção

Após estrear pela seleção brasileira, em 1976, as comparações entre Zico e Pelé aumentaram e, ao voltar ao Rio, depois de enfrentar o Uruguai e a Argentina, fora de casa, o flamenguista teve que responder sobre o assunto ao chegar no aeroporto do Rio.

“Não sou como Pelé. O Negão jamais terá alguém que possa ocupar o seu lugar. O que ele fez pelo futebol do Brasil, jogador nenhum pode conseguir repetir”, afirmou, em 1976.

Zico jogou três Copas do Mundo e perdeu apenas um jogo. Em 1976, a seleção ficou invicta e só não passou para a final por causa do saldo de gols. Em 1982, a equipe mostrou um futebol muito bonito, mas acabou eliminada pela Itália: 3 a 2.  Em 1986, o Brasil empatou com a França no tempo normal por 1 a 1 (Zico desperdiçou um pênalti), mas perdeu na decisão por pênaltis e caiu fora do Mundial.

Para Zico, Copa não era a sua praia. “Ainda encarei outras Copas. Fui coordenador técnico da seleção [em 1998]. Chegamos à final, e o Brasil perdeu [3 a 0 para a França] naquele episódio da convulsão do Ronaldo, que todos conhecem. Ainda fui técnico do Japão em 2006, mas paramos na primeira fase, outra frustração”, disse, em 2014.

Mas o astro foi campeão mundial pelo Flamengo em 1981, ano em que também venceu a Taça Libertadores. Conquistou os títulos de 1980, 1982 e 1983 do Campeonato Brasileiro e o de 1987 de Copa União.

A era Zico no Flamengo chegou a ser interrompida por dois anos. Entre 1983 e 1985, o atleta foi defender a modesta Udinese na Itália. Apesar da curta passagem pelo clube, ele virou ídolo em Udine.

Ele encerrou, pela primeira, vez a sua carreira como jogador profissional em dezembro de 1989. No ano seguinte, assumiu o cargo de secretário nacional de Desportos, no governo Fernando Collor.  Em abril de 1991, pediu demissão.

Pelo mundo 

Ainda em 1991, decidiu voltar aos gramados, mas em um projeto especial. Jogar no time japonês Sumitomo (time que passaria a se chamar Kashima Antlers) para aumentar a exposição do futebol por lá, aumentar a popularidade do esporte e consolidar a liga nacional do país. A missão foi cumprida, e Zico se aposentou, de vez, dos gramados em 1994.

O ex-atleta não se afastou do futebol. Participou da comissão técnica do Brasil, foi diretor do Flamengo e treinou Kashima, Japão,  Fenerbahce (Turquia), Bunyodkor (Uzbequistão), CSKA (Rússia), Olympiakos (Grécia) e outros times.  Até a seleção do Iraque ele aceitou dirigir, mesmo com a falta de estrutura do país e os problemas de segurança.

“Violência tem em todo os lugares do mundo. O que tiver para acontecer não vai ser por eu estar lá no Iraque. Tudo pode acontecer em qualquer lugar”, disse  Zico, antes de assinar o contrato, em 2011.

Outra grande aventura foi tentar em 2015 se candidatar para a presidência da Fifa, depois dos casos de corrupção serem divulgados e da renúncia de Joseph Blatter. No entanto, não conseguiu o apoio necessário de, pelo menos, cinco federações, para se inscrever na eleição.

Mesmo sem ter participado do pleito na Fifa, ele valorizou a experiência e indicou que não considera mais disputar o cargo.

“Não, não, isso acabou. Aquilo foi um momento, foi uma possibilidade, foi bom para mudar algumas estruturas, falar algumas coisas que não eram comentadas pela Fifa, ter espaço na mídia para colocar pontos importantes…”, afirmou, em 2016.

O seu último trabalho como treinador foi pelo FC Goa, da Índia, clube no qual saiu no começo de 2017.  Hoje Zico trabalha como comentarista de TV no Esporte Interativo e também possui um canal no YouTube.

Zico orienta os jogadores do Iraque (Shizuo Kambayashi -11.set.2012/Associated Press)