Guthrie, 80, chutou pneus de raiva e se tornou a 1ª mulher na Indy-500

Para se tornar a primeira mulher a correr nas 500 Milhas de Indianápolis, a ex-piloto Janet Guthrie, que completa 80 anos nesta quarta-feira (7), teve que superar preconceitos, desconfianças e insultos.

Nascida em Iowa, nos Estados Unidos, formou-se em física em 1960, mas deixou de lado a carreira profissional, em engenharia aeroespacial e na aviação, para se dedicar somente ao automobilismo em 1972.

Ela, que participava de competições organizadas pela SCCA (Sports Car Club of America), teve a sua primeira grande chance em 1976, quando foi chamada para testar um carro para as 500 Milhas de Indianápolis.

Apesar do convite, ela escutou do próprio dono da equipe, Rolla Vollstedt, que não teria vida fácil em Indianápolis: “Você nunca será vencedora, pois ninguém vai te dar um carro vencedor, porque você é mulher”.

Ainda em 1976, ela participou de corridas na categoria Nascar Winston Cup, um feito inédito para as mulheres. No entanto teve de encarar a descrença de muitos torcedores.

Guthrie contou para o site da Nascar que ficou muito chateada, antes de uma prova, quando um grupo de espectadores lhe perguntou se, realmente, iria competir. Como a resposta foi positiva, os torcedores falaram que torciam para que ela batesse o carro em uma região do circuito próxima ao lugar em que eles estavam. Só para que vissem o acidente de perto.

“Eu voltei para a garagem e chutei alguns pneus”, disse a piloto, relatando como fez para controlar a sua raiva.

JANET FAZ HISTÓRIA

Em 1977, ela voltou às 500 Milhas de Indianápolis e tentou se credenciar para disputar a corrida. Durante o treino classificatório, um cartaz lhe chamou a atenção: “Janet, conquiste a pole”.  Só que alguém desenhou uma genitália masculina nessa mensagem.

A ofensa lhe incomodou, mas ela preferiu não admitir isso quando, depois do treino, os repórteres lhe perguntaram sobre o insulto. “Eu disse que era um problema da organização do circuito. E não meu. Que mentira!”,  afirmou Guthrie para o site da ESPN em 2013.

O autor da ofensa não deve ter gostado do desempenho de Guthrie em pista. Ela se classificou para largar na 26ª posição e pela primeira vez uma mulher participou dessa corrida.

Com problemas mecânicos, não conseguiu concluir a prova daquele ano, mas, em 1978, obteve um grande resultado em Indianápolis. Após largar em 15º lugar, terminou as 500 Milhas em nono lugar.

Guthrie também correu em 1979, mas abandonou a prova ainda no início.

MULHERES NA PISTA 

Mesmo após a sua façanha, a participação das mulheres nessa corrida não cresceu rapidamente. Desire Wilson atuou como piloto de teste em 1982, e Lyn St.James começou a competir  na década de 90.

Apenas nos anos 2000 foi que a presença feminina aumentou, com Sarah Fisher, Danica Patrick, Milka Duno, Simona De Silvestro, Pippa Mann, Katherine Legge e a brasileira Bia Figueiredo (de 2010 a 2013).

O nono lugar de Guthrie em 1978 continuou sendo o melhor de uma mulher até a corrida de 2005, quando Danica Patrick ficou em quarto lugar.

Em 2009, Danica superou essa marca ao conquistar a terceira posição.

No ano passado, só uma mulher participou da corrida –Pippa Mann, que ficou em 17º lugar.

Danica Patrick dá entrevista após treino em  Indianápolis (Brent Smith – 15.mai.2005/Reuters)