Greve dos 300 mil desafiou lei e agitou SP há 65 anos
Insatisfeitos com alto custo de vida em São Paulo e em busca de aumento salarial, os trabalhadores das indústrias têxteis e metalúrgicas iniciaram, em 26 de março de 1953, uma paralisação geral de suas atividades.
O movimento ganhou força, com a adesão de várias outras categorias, sacudiu São Paulo e entrou para a história com o nome de Greve dos 300 mil.
Essa ação também representou uma vitória ao direito à greve, pois um decreto-lei, assinado em 1946 por Eurico Gaspar Dutra, estabelecia muitas regras que, na prática, inviabilizaria a realização de um movimento como aquele.
Porém, antes de decidirem cruzar os braços, os tecelões já tinham organizado uma manifestação, com cerca de 8.000 trabalhadores, no centro de São Paulo, em 10 de março, quando apresentaram as suas reivindicações. Também protestaram contra um comunicado da Delegacia Regional do Trabalho, que classificou a iniciativa dos trabalhadores como sendo um meio ardiloso de agitação.
Em 18 de março, outra passeata, que ficou conhecida como Panela Vazia, agitou a cidade. Cerca de 60 mil manifestantes se concentraram na praça da Sé e foram até a então sede do governo estadual, o palácio do Campos Elíseos. Lá, entregaram um requerimento ao governador Lucas Nogueira Garcez.
No documento, os trabalhadores pediram, por exemplo, que o governo interviesse para baixar o preço do arroz e do feijão e que impedisse o aumento nas passagens dos ônibus e bondes.
De acordo com dados da Fundação Getúlio Vargas, o custo de vida em São Paulo, entre 1943 e 1951, tinha aumentado cerca de 100%, contra apenas 14% do salário mínimo.
Nesse cenário, foi realizada a eleição para prefeito de São Paulo, em 22 de março. O candidato Francisco Antônio Cardoso, apoiado pelo presidente Getúlio Vargas, pelo governador Nogueira Garcez e pelo ex-governador Adhemar de Barros, perdeu para Jânio Quadros. O novo prefeito viria a apoiar o movimento dos trabalhadores.
A paralisação geral dos trabalhadores têxtis foi decidida em assembleia no dia 25. Eles desejavam um aumento de 60%. No mesmo dia, os metalúrgicos também se reuniram e resolveram aderir à paralisação.
A Folha da Manhã noticiou que cerca de 100 mil operários estavam sem trabalhar já no segundo dia da greve.
O movimento cresceu rápido, e tornaram-se constantes as notícias de que outras categorias estavam aderindo, como a dos marceneiros, a dos vidreiros e a dos gráficos.
Então, para representar os trabalhadores que eram de vários setores, formou-se uma Comissão Intersindical de Greve. “Foi uma verdadeira escola para o movimento sindical”, declarou o economista Paul Singer, que em 1953 trabalhava na empresa de elevadores Atlas e era um dos membros do comitê .
“Todos estavam insatisfeitos com a perda do poder de compra do salário devido à inflação”, afirmou Singer.
Com a greve, os ânimos se acirraram e houve vários conflitos entre grevistas e policiais. Em um deles, uma passeata foi dissolvida a tiros de metralhadora.
A paralisação continuou com os trabalhadores unidos, e a negociação chegou a ser mediada pelo governador Nogueira Garcez. A greve só terminou no dia 23 de abril, com os trabalhadores obtendo um aumento de 32% .