Há 25 anos, motoristas e cobradores fizeram a ‘greve dos pelados’ no Rio
Em 25 de março de 1993, uma paralisação inusitada de motoristas e cobradores do Rio, que reivindicava reajuste salarial, mudou a rotina da capital fluminense, deixando cerca de 2 milhões de pessoas sem transporte público.
Chamada de “greve dos pelados”, a paralisação teve início à 0h, em frente à sede do Sindicato dos Rodoviários do Município do Rio, na rua Camerino (centro). Depois, os piqueteiros seguiram para outras vias da região, entre elas as avenidas Rio Branco, Presidente Vargas e Marechal Floriano, além da Praça 15.
Conforme reportagem de Roni Lima, da sucursal da Folha no Rio, a estratégia dos grevistas consistia em parar os coletivos, retirar os passageiros e em seguida deixar nus motoristas e cobradores que não aderiram à paralisação. Sem roupas, eles eram forçados a conduzir os veículos até a rua do sindicato ou para as garagens das empresas.
Cerca de 40 motoristas foram vítimas da humilhação dos manifestantes. Os mais resistentes conseguiram manter suas cuecas e seus sapatos. Alguns tiveram que cobrir o órgão genital com bolsas. Wellington Luciano Ramos, um dos condutores da linha 127 (Rodoviária – Copacabana), teve as calças rasgadas e a cueca arriada até as canelas pelos grevistas. “Por favor, não tira mais não”, pediu o motorista.
Numa época em que o telefone celular era artigo para os mais endinheirados, grandes filas se formaram em frente aos orelhões públicos para que os trabalhadores pudessem justificar o atraso a seus chefes.
Ao menos 5 dos 20 ônibus levados pelos manifestantes para a rua do sindicato foram alvos de apedrejamentos no início dos protestos quando nove pessoas foram presas e em seguida liberadas pela polícia.
O diretor do sindicato dos rodoviários, Geraldo José Ribeiro, limitou-se a dizer que todos os motoristas e cobradores abordados eram orientados pelas lideranças a seguir “de livre e espontânea vontade” para o sindicato. Ribeiro disse ainda que o esvaziamento de pneus e o apedrejamento contra os coletivos foram causados por “infiltrados“ no movimento.
A manifestação se estendeu também a outros bairros e alguns municípios próximos à capital, entre eles Niterói. Mas não houve violência.
SEQUESTRO
Em Bonsucesso (zona norte do Rio), três coletivos foram barrados por homens encapuzados que diziam fazer parte do movimento grevista. Segundo testemunhas, um cobrador e dois motoristas foram “sequestrados” pelos supostos piqueteiros. Até o fim da tarde, policiais da 21ª Delegacia de Polícia ainda não tinham informações sobre os seus paradeiros.
Pouco antes os grevistas haviam iniciado uma passeata até a estação de trem Central do Brasil, no centro, onde dois manifestantes ficaram feridos em confronto com a Polícia Militar.
Em assembleia realizada no final da tarde junto ao sindicato patronal, os piqueteiros decidiram continuar a paralisação.
A REIVINDICAÇÃO
Os grevistas pleiteavam reajuste salarial de 36,7% retroativos a 1º de março, data base da categoria. O Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros havia proposto 40% de aumento, mas com entrada em vigor a partir de maio, o que não agradou a categoria.
Outra exigência dos grevistas era a revisão de cláusulas contratuais como, por exemplo, o horário de compensação (folgas dadas para reduzir os ganhos referentes às horas extras trabalhadas).
No início da noite, porém, parte da frota de 6.000 ônibus do Rio já havia voltado às ruas. De acordo com o sindicato das empresas, 40% deles (2.400 coletivos) estavam circulando. Por outro lado, o sindicato dos rodoviários falavam em 3% (200 ônibus).
No dia seguinte, em nova assembleia no início da tarde, os rodoviários decidiram suspender a greve até o dia 5 de abril, data marcada para outra reunião entre as partes. Às 14h os ônibus voltaram a circular normalmente na capital.
O então prefeito do Rio, Cesar Maia, que prenunciou que não participaria das negociações, disse que a melhor solução seria manter o reajuste de 25%, conforme o índice da inflação daquele mês.
Balanço dos empresários apontaram que 320 ônibus foram danificados durante os dois dias de piquete. Segundo Eurico Galhardi, diretor técnico do sindicato das empresas, o prejuízo foi de US$ 1,5 milhão.