Referência no rap, Sabotage, que completaria 45 anos, era fã de Chicos

Mesmo com uma curta trajetória profissional, o paulistano Mauro Mateus dos Santos, o Sabotage, –que completaria 45 anos nesta terça-feira (3)– virou um dos ícones do rap nacional.

O músico lançou em 2000 o seu primeiro CD, “Rap É Compromisso”, e estava em ascensão quando morreu em 2003, assassinado a tiros em São Paulo.

A sua carreira recebeu outro impulso com o seu trabalho no filme “O Invasor”, de 2002. Ele liderou a trilha sonora e também atuou como ator.

O diretor de “O Invasor”, Beto Brant, citou justamente um trecho da música-tema composta por Sabotage quando ganhou o prêmio de melhor direção no festival de Brasília.

“O que nos resta é espalhar que Deus existe e agora é a hora, porque a paz plantada aqui irá dar flor lá fora”, disse.

O rapper também ajudou o cantor Paulo Miklos a se preparar para interpretar o papel de um matador de aluguel no filme. Ele ensinou várias gírias para o vocalista dos Titãs .

“Ele era de uma empatia fantástica, era sedutor, tinha uma vivacidade e uma alegria impressionantes. Era muito poeta, tinha muito a dizer e tinha um traço muito dele. Se diferenciava de tudo, tinha uma capacidade violenta. É lamentável que não tenha sido muito percebido, mas sua música já era da rapaziada mais nova, o cara era um ídolo para eles”, declarou Miklos, após a morte do cantor.

CHICO SCIENCE

“O Invasor” também recebeu prêmios de melhor trilha sonora em festivais de cinema, como o de Brasília e o do Recife. E ir a Pernambuco foi especial para ele por um outro motivo. Era o estado natal do cantor Chico Science (morto em 1997) .

O rapper paulistano, inclusive, fez a música “Alto Zé do Pinho” (o nome é em referência a um bairro do Recife) para homenagear Science.

“Uma vez o Sabotage foi a Recife receber um prêmio por ter atuado no filme ‘O Invasor’ e pirou com a cidade. Ele dizia que se sentia especial só de estar na terra do Chico Science. Voltou e escreveu a música”, afirmou o produtor Tejo Damasceno.

A música, que tem participações do Otto, da Nação Zumbi e do rapper Sombra, de São Paulo, faz parte do álbum “Violar”, lançado pelo Instituto em 2015.

MAIS CINEMA

Depois de “O Invasor”, o rapper participou do filme “Carandiru” (2003), de Hector Babenco. Interpretou o papel de Fuinha, detento viciado em drogas, mas também atuou como uma espécie de consultor.

O ator Caio Blat definiu a participação de Sabotage, que teve um tio preso naquela cadeia, como “termômetro” para outros atores. “Ele conhecia alguns dos personagens que estão no filme”, disse.

O rapper cresceu em uma área violenta na zona sul de São Paulo. Comentava que onde vivia nem era possível denunciar os crimes que via.

“Nasci num mundo sujo, na favela do Canão, no Buraco Quente. Pequeno, vi pessoa morta na minha porta e minha mãe tentando esconder isso de mim. Não pode denunciar, senão eles vêm atrás da sua família”, declarou.

CHICO BUARQUE

Em entrevista para a revista Trip, Sabotage afirmou que escutava, desde criança, músicas de Pixinguinha e Chico Buarque e que uma canção, em especial, marcou a sua vida, na época em que esteve envolvido com drogas.

“Quando ouvia ‘O Meu Guri’ [de Chico Buarque], aquilo era o meu retrato no morro. Porque eu era vendedor de droga. E, quando vinha a polícia, corria para dentro do morro, guardava os bagulhos em tal lugar, a arma em outro, trocava de roupa e ia para dentro do meu barraco. Chegava lá, meu pai estava vendo televisão, e meu coração batendo na boca”, afirmou.

“Aí entravam os homens, perguntavam se ele não tinha visto nada e ele ‘não, não’. Ficava olhando para mim, para os policiais, e quieto. Ele tinha medo dos caras, mas eu dizia para ele: ‘Você não viu nada, não vai falar nada. Se vierem aqui falar que vendo droga, você não diz nada’ ”, continuou.

Com duas passagens pela polícia –por porte e tráfico de drogas–, Sabotage comentava que conseguiu mudar de vida por meio da música. “Foi o rap que me salvou”, dizia.