1978: Antes de assumir país, Figueiredo diz que ‘democracia plena não existe’
Há 40 anos, o general João Baptista Figueiredo concedeu entrevista à Folha, seis meses antes de ser eleito presidente da República pelo Colégio Eleitoral.
O encontro que não deveria “ultrapassar o limite de 20 minutos”, conforme pedido do ajudante de ordens de Figueiredo, o capitão Marcon, durou mais de uma hora e meia. Não foi permitido usar gravador ou tomar anotações.
Durante 95 minutos, o futuro presidente falou sobre democracia, voto popular, opinião pública, abertura política, privatização, dentre outros assuntos.
Questionado qual seria a sua democracia, Figueiredo respondeu: “O princípio básico é que todo poder emana do povo. Eu não gostaria de dizer democracia relativa, mas o fato é que democracia plena não existe.”
Sobre a discussão das eleições indiretas, declarou que “o eleitor brasileiro ainda não tem o nível do eleitor americano, do eleitor francês.”
Quando os repórteres Getulio Bittencourt e Haroldo Cerqueira Lima perguntaram se ele reconhecia que havia uma aspiração nacional pela abertura, Figueiredo foi direto: “Sim, é verdade, essa aspiração existe”.
Os repórteres, que receberam o Prêmio Esso de jornalismo pela entrevista, também o questionaram se sua ideia sobre privatização havia acabado. “Não, continua”, respondeu Figueiredo. “Mas entregar para o empresário que é eficiente às custas do dinheiro, ou para os que são eficientes por serem testas-de-ferro das multinacionais, não podemos.”
O resultado da entrevista foi publicado em dois dias, em 5 e 6 de abril de 1978 e pode ser lido no Acervo Folha.