1938: São Paulo ganha novo viaduto do Chá, em estilo art déco

O domingo de 17 de abril de 1938 foi uma data significativa para o avanço social e urbanístico do centro de São Paulo e seus arredores.

Um novo e suntuoso viaduto do Chá, de arquitetura ampla e moderna, construído em concreto armado, era inaugurado em substituição a um velho viaduto, que, com o crescimento acelerado da metrópole, já não suportava a demanda de veículos e de pedestres que precisavam transitar pela via.

Para a construção, o então prefeito de São Paulo, Fábio da Silva Prado (1934-1938),  lançou dois editais de concorrência nos anos de 1934 e 1935. O primeiro deles pedia sugestões de diretrizes para a obra. O segundo, se destinava à escolha do projeto.

O vencedor foi o arquiteto carioca Elisário Antônio da Cunha Bahiana (1891-1980), que propôs uma via com 25 metros de largura, quase o dobro da dimensão do velho Chá. 

Foi Bahiana quem projetou o Jockey Club de São Paulo e os edifícios Saldanha Marinho (rua Libero Badaró) e João Brícola, onde ficava a sede do Mappin Stores, em frente ao Theatro Municipal de São Paulo, na praça Ramos de Azevedo.

Conforme a Folha da Noite noticiou na ocasião, o prefeito Francisco Prestes Maia, que havia assumido a prefeitura no mês em que o viaduto foi entregue, “desejava uma inauguração revestida de muito brilho, tal a vultosa obra”, disse o então chefe do Executivo  paulista.

“Por motivo de força maior”, contudo, não houve solenidades durante a abertura da nova via, que foi entregue inacabada à população. Ainda faltava a construção de parte do calçadão para o trânsito de pedestres.

O viaduto foi erguido com arco central de 64 metros de vão, sustentado por dois pilares de cerca de 4 metros de largura por 25 de comprimento. Os vãos das extremidades têm 17,5 metros. 

Considerado um dos maiores símbolos da arquitetura do país, o viaduto do Chá se tornou um dos principais polos da diversidade brasileira.

Hoje, sob o Chá funcionam o Centro de Referência da Dança, o Centro de Referência da Cidadania do Idoso e a Galeria Prestes Maia. A zeladoria de seu entorno é de responsabilidade da Prefeitura Regional da Sé.

O VIADUTO DOS TRÊS VINTÉNS

Antes da nova via, existia o velho Chá, estruturado com cerca de 3.000 peças metálicas importadas da Alemanha.

O projeto foi idealizado em 1877, pelo litógrafo e arquiteto francês Jules Victor André Martin (1832-1906), que percebeu a necessidade de se estabelecer uma conexão entre o antigo morro do Chá, situado nas imediações da rua Barão de Itapetininga e praça da República (que eram repletas de sítios com plantações de chá da Índia, daí o nome), e a região do centro velho, que começava na praça do Patriarca com a rua Direita. Ambos as “colinas” eram divididas pelo córrego Anhangabaú, onde hoje fica o vale de mesmo nome.

Construção do primeiro viaduto do Chá, no século 19 (Reprodução)

O contrato para a concessão e confecção do primeiro viaduto foi assinado em 1885 e a obra iniciada três anos depois, em 1888, ano da abolição da escravatura no Brasil. A via, inicialmente de responsabilidade privada, foi inaugurada em 6 de novembro de 1892, com grandes festejos por todo o centro.

Para que o projeto fosse executado, foi fundada a Companhia Paulista Viaduto do Chá, que tinha Martin como um dos associados. Durante a construção, com problemas financeiros, a concessão foi transferida para a Companhia Carril de São Paulo, empresa que concluiu a obra.

O contrato com a prefeitura estabelecia o pagamento de três vinténs (60 réis) por pedestre que  atravessasse o viaduto, o que levou a via a ser conhecida na época pelo pseudônimo “Viaduto dos Três Vinténs”. Em 1896, porém, os paulistanos se rebelaram contra a cobrança. A Câmara Municipal, então, em atendimento às reivindicações da população, pagou uma indenização à concessionária, e o viaduto passou para a responsabilidade do município.