1963: SP recebe Pan, sem pompas, mas Brasil conquista seu melhor resultado
Cerca de 40 mil pessoas encheram as arquibancadas do Pacaembu, no dia 20 de abril de 1963. Mas não era para ver jogo de Corinthians, Palmeiras, São Paulo ou Santos, nem de qualquer outro time de futebol.
O motivo da ida dos torcedores ao estádio foi a cerimônia de abertura da quarta edição dos Jogos Pan-Americanos, que pela primeira vez eram realizados no país.
A festa foi grande durante o desfile dos atletas, como mostrou a reportagem da Folha.
“As maiores palmas foram ganhas pela delegação brasileira. A seguir, mereceram aplausos excepcionais os norte-americanos, os argentinos e os cubanos, embora todas as demais comitivas tivessem recebido entusiástica recepção”, informou o jornal.
A competição foi disputada até 5 de maio, com 1.665 atletas –menor número de participantes na história dos Jogos.
O Brasil obteve um bom desempenho esportivo. Terminou com 14 ouros, em segundo lugar no quadro geral de medalhas –posição mais alta já alcançada.
Essa quantidade de medalhas douradas significou um grande salto para o Brasil. No primeiro Pan, em Buenos Aires, em 1951, haviam sido conquistados cinco ouros. Na edição da Cidade do México, em 1955, apenas dois. E em 1959, em Chicago, o número subiu para oito.
Além dos 14 ouros, o Brasil conquistou 20 pratas e 18 bronzes em 1963.
Para receber a competição em 1963, São Paulo teve que vencer a concorrência da canadense Winnipeg. Como ambas se candidataram, uma votação foi realizada, e a cidade brasileira ganhou por 18 a 5 votos.
Organização
Era uma época em que os eventos esportivos não eram grandiosos, e São Paulo realizou os Jogos de forma modesta, sem tanta pompa.
Para arrecadar dinheiro, adesivos e faixas chegaram a ser vendidos. Outro caso curioso foi o fato de um empresário ter oferecido 500 uniformes para a delegação brasileira, oque resultou num convite para que integrasse o comitê organizador.
No Pan de 1963, 60% das atividades foram realizadas em espaços públicos já existentes, conforme informou reportagem da revista sãopaulo, de 19 de junho de 2016.
O Complexo do Pacaembu, principal arena do evento, recebeu provas de atletismo, boxe, futebol, judô, lutas, natação e parte das provas de hipismo. Já o Ibirapuera abrigou o basquete.
Mais um ponto relevante é que cerca de 30% dos eventos aconteceram em instalações particulares. A competição de saltos ornamentais, por exemplo, foi realizada no Palmeiras.
Legado
Além de aproveitar as arenas que já existia, o Pan deixou a Vila dos Atletas como um legado para São Paulo.
A cidade não tinha um local adequado para abrigar os participantes dos Jogos, mas havia um projeto de construção de alojamento e restaurante para os estudantes da USP (Universidade de São Paulo).
Com isso, esse projeto saiu do papel, e as novas instalações foram usadas pelos atletas durante a competição. Depois, a estrutura ficou para São Paulo.
“Do ponto de vista de retorno para a sociedade, foi um legado maravilhoso para a USP, porque, com o Pan, a universidade teve a oportunidade de tirar o projeto do conjunto residencial com seis blocos do papel”, disse João Roberto Leme Simões, um dos arquitetos técnicos da construção da Vila.
São Paulo também receberia o Pan em 1975, mas alegou surto de meningite para abdicar da organização.
Em 20 de abril de 2013, a reportagem da Folha afirmou que a cidade aproveitava mais os espaços esportivos do Pan de 1963 de que o Rio de Janeiro, sede em 2007. Mas, para o COB (Comitê Olímpico do Brasil), não era possível comparar as edições brasileiras dos Jogos Pan-Americanos.
O comitê também destacou que o Pan-2007, quando o Brasil ficou em terceiro lugar no quadro de medalhas, foi peça fundamental para o Rio ganhar a confiança da comunidade esportiva internacional para virar sede dos Jogos Olímpicos-2016.