1918: Nasce Fanny Blankers-Koen, a mulher do século 20 no atletismo

Antes de chegar a Londres para disputar a Olimpíada de 1948, a holandesa Francina ‘Fanny’ Blankers-Koen, que completaria 100 anos nesta quinta-feira (26), teve que superar desconfianças, críticas e preconceito.

Mãe de um garoto de seis anos e de uma menina de dois, a atleta conciliava as atividades familiares com os treinos. Como conseguia bons resultados no esporte, era chamada de “Dona de Casa Voadora”.

Só que muita gente não concordava que ela continuasse no esporte após a maternidade, conforme a atleta declarou para o jornal americano New York Times, em 1982.

“Eu recebia muitas cartas com mensagens ruins, pessoas escrevendo que eu deveria ficar em casa com as minhas crianças e que eu não deveria ter permissão para correr em uma pista  –como se diz isso?– com calças curtas”, disse.

Mas a holandesa se defendeu dizendo que era uma boa mãe e que dividia praticamente todo o seu tempo entre as tarefas domésticas e o treinamento, sem ter período livre para fazer outras coisas.

Fanny (dir) vence os 80 m com barreiras em Londres (Reprodução)

A primeira Olimpíada que disputou, ainda solteira, foi a de Berlim-1936. Aos 18 anos, ficou em quinto lugar no revezamento 4 x 100 m e em sexto no salto em altura.

Ela se casou com o seu treinador Jan Blankers em 1940 (ano que não teve a competição por causa da Segunda Guerra Mundial).

Os Jogos só voltaram a ser organizados em 1948, quando a holandesa tinha 30 anos. E já havia quem a visse como veterana para que conseguisse brilhar no torneio.

“Um jornalista escreveu que eu era velha demais para correr, que eu deveria ficar em casa e cuidar das minhas crianças. Quando eu cheguei a Londres, eu apontei o meu dedo para ele e disse: ‘Eu te mostro’”, afirmou Fanny.

4 ouros

Sua resposta em pista foi brilhante. Venceu as quatro provas que disputou: 100 m, 200 m, 80 m com barreiras e revezamento 4 x 100 m.

Até hoje, a façanha de conquistar quatro medalhas de ouro no atletismo em apenas uma edição da Olimpíada não foi repetida por nenhuma outra mulher.

“Sábado à tarde, Fanny disputou a última prova da 14ª Olimpíada na pista de Wembley. Horas depois, já se encontrava em alto mar, em viagem para Amsterdã. Toda essa pressa consistia no desejo de chegar a seu lar, para beijar e abraçar sua mãe e seus filhos, Jan, de seis anos, e Fanny, de dois, e também para descansar de tanta ‘preocupação olímpica’”, informou reportagem da Folha da Manhã, intitulada de “A Impressionante carreira olímpica de Fanny Blankers-Koen”.

Atleta do século 20

Durante a sua carreira, a holandesa chegou a registrar 20 recordes mundiais e foi eleita, em 1999, a melhor atleta do século 20 pela Iaaf, a entidade que controla o atletismo mundial –entre os homens, o americano Carl Lewis foi o escolhido.

Ao saber do prêmio, Fanny mostrou espanto. “Quando penso em todas as grandes mulheres que já competiram no século e nas jovens que estão indo tão bem, eu tenho que dizer que estou surpresa, mas muito contente também”, afirmou.

Ela morreu aos 85 anos, em 2004, após sofrer do mal de Alzheimer.

Edição de 21 de novembro da Folha da Manhã de 1948