1998: Morre nos EUA o cantor e ator Frank Sinatra, conhecido como ‘A Voz’
Há 20 anos, morria em Los Angeles Francis Albert Sinatra, ou simplesmente Frank Sinatra, o maior cantor do século 20, vítima de um ataque cardíaco, aos 82 anos.
O filho de imigrantes italianos deixou a cidade de Hoboken, no estado de Nova Jersey, e o sonho da mãe de que se tornasse engenheiro para se tornar cantor. Sua saga começa em 1935 e desse ano em diante colecionou números impressionantes, não à toa a Folha dedicou um caderno de 12 páginas em sua morte.
Foram cerca de 2.000 canções gravadas em estúdio (e outras mais extraídas de apresentações em cinema, rádio, televisão, boates e estádios), mais de 200 álbuns e ao menos 206 CDs que fazem dele o músico mais preservado digitalmente na história do som gravado.
Em 2015, quando completaria cem anos, havia quase mil livros publicados a seu respeito. Como disse o colunista da Folha Ruy Castro, “alguns, destruidores, a maioria, admirativos, e muitos, sérios e consistentes”. No cinema foram quase 60 filmes, tendo recebido um Oscar de melhor ator coadjuvante por “A Um Passo da Eternidade” (1953).
E, até sua morte, seu patrimônio era estimado em US$ 200 milhões.
Bem menos numerosos eram os apelidos pelos quais era conhecido. “Presidente do Conselho”, “Líder”, “Olhos Azuis”, mas o principal deles e pelo qual ficou mundialmente conhecido era “A Voz”.
MULHERES
Isso sem contar suas paixões e os refrões e as gírias que inventou. Sinatra era próximo aos chefões da máfia nos Estados Unidos e colecionava tudo, amigos, inimigos e até brigas com a imprensa, ao ponto de chegar a investir com o carro contra fotógrafos.
Foi casado oficialmente quatro vezes, mas as relações extraconjugais eram contadas as dezenas. Apesar de ter arrebatado as mulheres mais lindas da época (Joan Crawford, Kim Novak, Sophia Loren, Gloria Vanderbilt, entre outras), o cantor se sentiu atraído por Ava Gardner por muito tempo. A relação conturbada entre os dois resultou na canção “I’m a Fool to Want You”, a qual coescreveu e gravou em 1951.
Os arroubos, os excessos –com ou sem o “Rat Pack”– em bares (seja em Nova York, Flórida ou Chicago), hotéis e cassinos marcaram a personalidade do ator, cantor, “líder”, namorador e amigo pessoal de políticos como John F. Kennedy e Ronald Reagan.
Sua filha caçula, Tina Sinatra, resumiu assim seu temperamento: “Suas bravatas, sua grandeza, sua dimensão na vida pública, tudo faz parte dele. Mas por baixo existe alguma coisa muito –não quero dizer ‘sensível’, porque seria uma redução–, por baixo há um menino frágil e delicado”.
CANTOR
Sinatra tinha em Bing Crosby sua maior inspiração, mas também o maior desafio: precisava superá-lo para garantir que era grande. Nunca negou a influência dele, porém sempre se derreteu em elogios a Billie Holiday –na década de 1980, ele afirmou que era sua maior influência isolada– e a Ella Fitzgerald, eleitas por ele como as melhores vozes da América.
Mesmo colecionando sucessos, ele conheceu o fracasso. Em 1941, foi eleito vocalista de banda mais popular do país pela revista Billboard e desbancou Bing Crosby do topo da lista dos melhores cantores da Down Beat.
Até 1948 reinou quase absoluto. Mas em 1949 passou a ver o declínio de sua popularidade, que resultaram em queda na venda de discos, na dispensa dos estúdios MGM e na revelação de casos fora do casamento.
No ano seguinte, sua primeira mulher, Nancy Sinatra, aceitou a separação, mas negou-lhe o divórcio. Para piorar, o comitê do Senado o convocou para depor sobre seu envolvimento com a máfia (havia sido fotografado com o chefão Lucky Luciano em Havana) e ainda sofreu com uma hemorragia na garganta, que o deixou sem cantar por meses.
Como se isso não bastasse, a relação extraconjugal com Ava Gardner, que finalmente se tornou oficial em 1951, naufragou 11 meses depois, cercada por crises de ciúmes, traições e reconciliações. A essa altura, a reputação de Sinatra com fãs e opinião pública estava arrasada.
A virada dos anos 50 trouxe muitas novidades musicais, mas Frank Sinatra ainda estava envolto em escândalos. Assim, só tocava antigos sucessos e continuava em baixa com o público.
Somente em 1953, quando inicia sua parceria com Nelson Riddle, o cantor retomou o caminho do sucesso. As músicas “I’ve Got the World on a String”, “Don’t Worry ‘Bout Me”, “Young at Heart” trouxeram um novo Sinatra.
A partir daí suas canções passaram a ser vistas como autobiográficas, e sua interpretação, mais madura, que a depender da letra refletia felicidade ou dor. Para o jornalista John Lahr, “Sinatra não cantava simplesmente uma canção. Dava uma urgência especial a seu tema”.
Sobre a nova fase, o cantor foi direto: “Você tem de chegar ao fundo do poço para apreciar a vida e começar a viver novamente”.
Com Riddle, engrenou um sucesso atrás do outro. Entre abril de 1958 e abril de 1966, não teve só compactos entre os dez mais da Billboard, mas sim 20 álbuns. “Only the Lonely”, lançado em 1958, ficou nas paradas durante 120 semanas. O seguinte, de 1959, “Come Dance with Me”, ficou 140 semanas.
No mesmo período de oito anos, Sinatra voltou a ser o queridinho da América e também dos estúdios de Hollywood, participando de 22 produções.
BRASIL
Sinatra gravou dois discos com o maestro Tom Jobim. Em 1967, foi lançado o álbum “Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim”.
Anos depois, gravações para um segundo disco da dupla chegaram a acontecer, mas, em vez de um álbum ao estilo do primeiro, somente com os dois, tornou-se um disco de Sinatra com vários parceiros. O que estava planejado para ser “Sinatra-Jobim” acabou virando “Sinatra & Co.”.
Os fãs brasileiros ficaram animados com o encontro de Jobim e o maior cantor popular americano, mas um show mesmo só foi acontecer 13 anos após o encontro dos dois.
Em 1980, Sinatra se apresentou por seis noites seguidas (de 22 a 27 de janeiro), no Rio. Foram cinco shows no Rio Palace Hotel e um no estádio do Maracanã, que, segundo o colunista Ruy Castro, “ele cantou para 150 mil pessoas”.
No ano seguinte, voltou ao Brasil para três shows em São Paulo, onde se apresentou no Maksoud Plaza Hotel.
FRASES
FILHOS
O Blog Acervo Folha entrou em contato com a filha mais velha de Sinatra, a atriz e cantora Nancy. Seu assessor de imprensa disse que “no momento não estão agendando nenhuma entrevista com a senhora Sinatra”.