1968 – A SÉTIMA BOMBA: Explosão na Bolsa de Valores de São Paulo arrebenta 59 vidraças

Um dos símbolos do capital financeiro, a Bolsa de Valores de São Paulo foi atingida por uma bomba às 22h de 15 de maio de 1968. Tratava-se da sétima explosão na cidade, em um período de dois meses, em um conturbado ano.

A ação arrebentou 59 vidraças, mas não houve vítima. A entidade funcionava, à época, no edifício da Secretaria de Agricultura, localizado no Pateo do Collegio, próximo à Central da Polícia. Ninguém foi preso.

“Só pode ser um ato visando fins propagandísticos, uma vez que, a essa hora da noite, não há ninguém no prédio”, disse o então presidente da Bolsa de Valores, Osorio de Oliveira Sobrinho.

As histórias de bombas detonadas em São Paulo em 1968 estão sendo recontadas agora pelo Banco de Dados no Blog do Acervo Folha.

Naquele ano, mais de 20 explosões desafiaram os governos federal e estadual, o Exército, a Polícia Federal, o Dops (Departamento de Ordem Política e Social), a Força Pública, delegacias da cidade e autoridades.

Era o quarto ano da ditadura militar no Brasil, e as guerrilhas urbanas estavam atuantes.

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15 de maio de 1968

Quando a bomba explodiu na Bolsa de Valores, dois policiais da radiopatrulha estavam com o carro estacionado no viaduto da rua Boa Vista, a aproximadamente 100 metros do local.

Eles escutaram o barulho e pensaram, primeiramente, que eram estouro de um pneu. No entanto viram a fumaça. Como era perto, foram de marcha à ré ao prédio da explosão.

Ao chegar, os policiais foram conferir o que realmente tinha acontecido e se alguém tinha se ferido.

Depois disso, eles iniciaram a busca por suspeitos e encontraram uma testemunha, um garoto de 17 anos correndo.

O rapaz trabalhava como mensageiro de uma empresa telegráfica e, à noite, estudava arte culinária no Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial). Ele entrou na viatura e explicou que estava correndo de medo.

Contou que tinha saído da escola e estava andando em direção ao Parque Dom Pedro para pegar um ônibus e voltar para sua casa, em Engenheiro Goulart (zona leste).

Os estilhaços da bomba são recolhidos e o local fotografado pelos especialistas (Reprodução/Folhapress)

Conflito de versões

A versão inicial divulgada pela imprensa era a de que o garoto tinha declarado que um sujeito alto, magro, cabelos grisalhos, vestindo uma japona, com uma pasta, andava perto da entrada da Bolsa e que, momentos antes da explosão, o homem teria começado a correr em fuga.

O rapaz teria também declarado aos policiais ter visto o suspeito se encontrando com outros dois companheiros na ladeira da rua General Carneiro.

No dia seguinte, o garoto prestou depoimento de duas horas no Dops (Departamento de Ordem Política e Social) e negou essas informações.

Afirmou que não viu o suspeito de perto, não sabia informar a roupa exata nem dizer se o homem estava acompanhado ou sozinho.

“Na rua Alvares Penteado, um homem alto, de roupa esporte, passou por mim. Chovia, estava escuro, o homem sumiu. Pouco depois, quando comecei a descer a General Carneiro, ouvi a explosão e corri ladeira abaixo”, disse a testemunha.

Depois, ele mudou novamente a versão e afirmou ter visto o homem correndo na mesma rua.

“Vi um homem correr quando a bomba explodiu, mas sei lá se era terrorista ou estava correndo de medo como eu”, afirmou o garoto.

Assim como nas explosões anteriores no ano, a polícia ficou sem muitas pistas sobre os autores dos ataques, e o caso entrou no rol das “bombas misteriosas”.

Explosões parecidas

No entanto o general Silvio Correia de Andrade, delegado na Polícia Federal, acreditava que a série de atentados em 1968 eram promovidos pelo mesmo grupo.

“O processamento das explosões é o mesmo. Colocam as bombas em lugares ermos, altas horas da noite”, disse.

“A natureza dos explosivos também é a mesma. São de fabricação caseira, quase sempre canos de ferros com luvas para engates contendo pólvora ou dinamite. Os estilhaços são muito parecidos, em todos os casos. Dá a impressão de ser uma continuação de uma série de atentados iniciada com a explosão no Consulado Americano”, declarou.

 

Veja também:

1968 – A PRIMEIRA BOMBA: Explosão no Consulado dos EUA deixa feridas abertas até hoje

1968 – A SEGUNDA BOMBA: Depois de alarme na Polícia Federal, explosão atinge coração da Força Pública

1968 – A TERCEIRA BOMBA: Explosão endereçada ao 2º Exército fere 2 pessoas