1978: Argentina vence Copa pela 1ª vez com polêmica que persiste até hoje
Quem viu a Copa da Argentina, em 1978, não se esquece do jogo entre a anfitriã e o Peru, em especial da sonora goleada de 6 a 0 que a colocou na final contra a Holanda.
Quatro anos antes do choro provocado pelo carrasco italiano Paolo Rossi e pela queda da seleção de ouro de Sócrates, Zico, Júnior e companhia, a Argentina se sagrava campeã na prorrogação (3 a 1), em casa, depois de um empate em 1 a 1 com a Holanda no tempo normal.
O Mundial de futebol no país vizinho ficou marcado e refletido na memória de quem o viu e transmitiu aos que nasceram no meio da década de 1970 em diante como a Copa suspeita de ter sido “comprada”.
O goleiro peruano –na verdade argentino– Ramón Quiroga é apontado como o vilão do torneio e no imaginário do futebol brasileiro como a figura que nos desclassificou.
Na segunda fase do torneio, o Brasil tinha vitórias contra Peru (3 a 0) e Polônia (3 a 1) e um empate sem gols com a Argentina, com um saldo era de cinco gols. Só o primeiro colocado se classificava para a final. A seleção de Daniel Passarella chegou à rodada decisiva precisando de um triunfo por quatro gols de diferença sobre o Peru para ultrapassar o Brasil na tabela e ir à decisão. Então, deu-se o 6 a 0.
A seleção brasileira não foi brilhante durante o torneio, mas não perdeu nenhuma partida. Empatou duas na primeira fase, contra Suécia (1 a 1) e Espanha (0 a 0), e venceu a Áustria por 1 a 0. Na decisão pelo terceiro lugar, bateu a Itália por 2 a 1.
Comandados pelo técnico Cláudio Coutinho, os brasileiros tinham Zico, Reinaldo, Dinamite, Nelinho e Dirceu. Era um time de respeito, mas essa era mesmo a Copa da Argentina.
Os argentinos ainda não contavam com Maradona (então com 17 anos), mas tinham uma seleção que muitos ainda se recordam, com o futuro técnico Passarella, o artilheiro Mario Kempes (fez seis gols no torneio), o goleiro Ubaldo Fillol, Leopoldo Luque e Rene Houseman.
Fizeram sete jogos, perderam apenas para a Itália (1 a 0) na primeira fase, empataram com Brasil (0 a 0) na segunda e com a Holanda no tempo normal da final (1 a 1). De resto só vitórias. Duas vezes de 2 a 1 (contra Hungria e França), 2 a 0 sobre a Polônia e os 6 a 0 no Peru.
Deste jogo, em especial, o placar elástico e o goleiro argentino naturalizado peruano continuam a repercutir. Em outubro de 1998, a Folha publicou no caderno Esporte “Ex-goleiro admite fraude na Copa-78”. No texto, Ramón Quiroga levantou suspeitas sobre jogadores terem aceitado suborno para facilitar a vitória argentina.
A reportagem informou que Quiroga especulava que “os militares argentinos teriam subornado seus companheiros de equipe”. Segundo o ex-jogador, “antes da partida ou no intervalo” foram ao vestiário peruano “membros da Junta Militar da Argentina” –o país que era presidido na época pelo general Jorge Videla.
“Quiroga, porém, é o primeiro envolvido no episódio a levantar suspeitas de suborno”, terminou o texto.
Passados 20 anos da publicação da Folha, foi a vez de o diário peruano Trome voltar ao tema.
Em março deste ano, o ex-jogador José Velásquez, apelidado no país de “El Patrón”, disse em entrevista que “seis jogadores se venderam”. “Só posso citar quatro, porque há outros dois que são famosos e posso prejudicar suas carreiras. Os que se venderam foram Rudolfo Manzo, Raúl Gorriti, Juan José Muñante e Ramón Quiroga”, afirmou.
Desta vez, o goleiro (e atualmente comentarista esportivo) não levantou suspeita nem ratificou o que o companheiro disse em entrevista. Em vez disso, protocolou denúncia por crime contra honra e difamação agravada.
Se para a torcida brasileira a goleada e o título argentino não foram digeridos, o mesmo pode se dizer dos peruanos que continuam sem respostas que confirmem as suspeitas levantadas de que há 40 anos tivemos uma Copa do Mundo “comprada”.