Guerra Civil da Iugoslávia teve massacres e separou repúblicas nos anos 1990

Formada por seis repúblicas, Sérvia, Eslovênia, Croácia, Bósnia e Herzegovina, Montenegro, Macedônia, e duas regiões autônomas, Kosovo e Voivodina, a República Socialista Federativa da Iugoslávia surgiu após ao fim da Segunda Guerra, em 1945, sob o comando do marechal Josip Tito.

Antes disso, o primeiro Estado propriamente iugoslavo foi formado em 1918, com o Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos. Onze anos depois recebe o nome de Reino da Iugoslávia. Em 1941 é invadido pelos países do Eixo, durante a Segunda Guerra Mundial.

O Reino da Iugoslávia foi libertado do domínio nazi-fascista pelos chamados partisans (tropa formada para se opor à ocupação e ao controle estrangeiro), liderados por Josip Broz Tito, que após chegar ao poder instaura um regime comunista.

O dirigente uniu o bloco e permaneceu no poder até a sua morte em 4 de maio de 1980. Sem ele, a relação entre as repúblicas se deteriorou, e as disputas entre as nacionalidades voltaram à tona.

Depois da queda do muro de Berlim, em 1989, e do declínio do comunismo, movimentos separatistas dentro da Iugoslávia passaram a ganhar mais força.

As independências da Eslovênia e da Croácia foram proclamadas em junho de 1991, mas os sérvios ainda tentavam preservar a unidade iugoslava.

A Eslovênia enfrentou um curto confronto, que ficou conhecido como a Guerra dos Dez Dias, em 1991. Já o conflito contra Croácia persistiu até 1995.

“Euforia toma conta de croatas e eslovenos”, publicou a reportagem da Folha em 26 de junho de 1991.

Depois de eslovenos e croatas, a Macedônia decidiu em setembro de 1991 também declarar sua independência em relação ao governo central de Belgrado. Quase 1,5 milhão de pessoas, além de 200 mil macedônios que viviam no exterior, foram convocadas às urnas.

Após pouco mais de dois anos, países da União Europeia reconheceram a independência da Macedônia e começaram a estabelecer relações diplomáticas com o país. A Sérvia não reagiu militarmente.

Em março de 1992, foi a vez da Bósnia-Herzegóvina votar pela sua desvinculação e, em abril, estourou a guerra entre as forças do governo bósnio e sérvios da região, que se posicionaram nas montanhas que circundam Sarajevo.

A Bósnia era um território compartilhado por sérvios, croatas e bósnios muçulmanos.

O tratado de paz só foi assinado em 14 dezembro de1995 entre presidentes da Bósnia, Sérvia, Croácia e países líderes da Otan, a aliança militar ocidental. O confronto matou cerca de 200 mil pessoas em três anos e meio.

Um dos mais longos conflitos foi o Cerco de Sarajevo (capital e a maior cidade da Bósnia e Herzegovina) realizado pelas forças sérvias. Cerca de 12 mil pessoas foram mortas e ao menos 50 mil ficaram feridas durante o cerco, sendo a maioria delas civis.

O episódio inspirou a canção de protesto da banda de rock irlandesa U2 a compor junto com o cantor e compositor Brian Eno a música “Miss Sarajevo”, que teve participação do tenor italiano Luciano Pavarotti.

Seguindo os exemplos da Eslovênia, Croácia, Bósnia e Macedônia, a República de Montenegro aprovou em maio de 2006, por votação, a sua independência –proclamada oficialmente em junho, sem guerra.

Entre março e junho de 1999, a província albanesa de Kosovo se rebelou contra os sérvios. Durante o confronto, o Kosovo recebeu apoio das tropas da Otan, a aliança militar ocidental.

Com apoio militar da Otan, Kosovo acabou se tornando um protetorado da ONU (Organização das Nações Unidas). Sua independência não foi reconhecida pela Sérvia, mas foi declarada em 17 de fevereiro de 2008.

Corpos de combatentess sérvios e croatas são tirados de vala comum em Ovcara, na Croácia (Jutarnji List – 28.abr.1998/Associated Press)

As consequências dos anos de guerra e massacres como os de Sarajevo e Srebrenica em 1995 (que deixou cerca de 8.000 muçulmanos mortos) levaram a ONU a criar em 1993 o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia, em Haia, na Holanda.

Como o colunista Clóvis Rossi informou, o tribunal encerrou seus trabalhos a 31 de dezembro de 2017, com este balanço: 161 atas de acusação, 123 prisões e 83 condenações.

Slobodan Milosevic, líder da Iugoslávia durante os conflitos, foi enviado a Haia em 2001; morreu em 2006, na prisão, antes de ser julgado por crimes de guerra.

Radovan Karadzic foi o líder político da república sérvio-bósnia; preso em 2008, foi condenado a 40 anos de prisão por crimes em Sarajevo e Srebrenica.

Goran Hadzic liderou rebeldes sérvios na Croácia; morreu em 2016 antes do fim do seu julgamento, no qual era acusado de assassinato e tortura.

Ratko Mladic liderou o Exército sérvio-bósnio de 1992 a 1996, quando foram cometidos crimes no cerco a Sarajevo e em Srebrenica. Foi condenado à prisão perpétua.

E o general Slobodan Praljak, que foi um dos comandantes das forças bósnio-croatas durante a Guerra da Bósnia, morreu em novembro do ano passado, após ingerir veneno segundos depois que juízes do Tribunal Penal Internacional recusaram seu recurso contra uma pena de 20 anos de prisão por crimes de guerra cometidos contra muçulmanos.

“Eu acabei de beber veneno. Eu não sou um criminoso de guerra, me oponho a essa condenação”, disse ele na sequência.

Colaboraram Luiz Carlos Ferreira e Rodolfo Stipp Martino