Mortes e atentados fazem parte do histórico de ações contra políticos no Brasil

Ataques a políticos no Brasil, que chamam a atenção da mídia e da população, estão presentes no país com mais repercussão desde o século retrasado. Assassinatos, tiros, brigas e até bolinha de papel fazem parte do histórico de ações contra a classe.

Um levantamento feito por pesquisadores da UniRio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) mostra que foram assassinados 79 candidatos que concorreram às eleições ocorridas entre 2000 e 2016 –os casos diferem da execução da vereadora Marielle Franco (PSOL), que não estava em campanha, mas indicam os riscos da atuação política, que se concentram, mas vão além do período eleitoral.

Abaixo você confere alguns casos levantados pelo Banco de Dados Folha:

21.nov.1830 – Assassinato de Libero Badaró

Político, jornalista e médico, Giovanni Battista Líbero Badaró chegou ao Brasil em 1826. Ele se estabeleceu em São Paulo e fundou o jornal Observador Constitucional, em que criticava ação de governantes. Ele foi assassinado após sofrer atentado a bala, quando chegava em sua casa, na rua que hoje leva seu nome no centro de São Paulo. Antes de morrer teria dito: “Morre um liberal, mas não morre a liberdade”.

O crime foi considerado político, já que o imigrante alemão Henrique Stock alegou ter atirado a mando do desembargador ouvidor Candido Ladislau Japi-Assú, defensor do Império.

15.jul.1889 – Atentado contra dom Pedro 2º

Quando dom Pedro 2º saia do teatro Sant’Anna, no centro do Rio, e se dirigia para uma carruagem, um pequeno grupo gritou vivas à República.

O carro imperial seguiu para a praça da Constituição, um indivíduo disparou na direção do monarca e fugiu para um estabelecimento próximo.

Pouco depois, porém, foi preso pelo povo um homem que acreditava-se ser o autor do atentado. Não ficou comprovado se o suspeito tinha ligações políticas com grupos republicanos.

5.nov.1895 – Prudente de Morais escapa de facada, mas ministro morre

Era uma terça-feira quando o soldado Marcellino Bispo tentou esfaquear o presidente da República, Prudente de Morais, no pátio do Arsenal de Guerra (Rio), durante a cerimônia de recepção dos militares vindos da Guerra de Canudos. Morais foi salvo pelo ministro da Guerra, o marechal Carlos Machado Bittencourt, que se jogou na frente do presidente. O ministro foi atingido e morto por Bispo.

O coronel Luís Mendes de Morais, chefe da Casa Militar e sobrinho de Prudente de Morais, que ajudou a defender o presidente, também foi esfaqueado, mas sem gravidade.

26.jul.1930 – Morte de João Pessoa

Presidente da Paraíba, posto equivalente hoje ao de governador, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque foi assassinado em Recife, em 1930, pelo advogado João Dantas. Ele era candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Getúlio Vargas (1883-1954).

O movimento, liderado por Vargas, derrubou do poder o presidente Washington Luís, que apoiava a chapa da situação formada por Julio Prestes e Vital Soares. O assassinato foi utilizado pelos getulistas como propaganda para derrubar Washington Luís.

O crime foi definido como um atentado político e imediatamente atribuído aos aliados do presidente da República. Porém, o motivo mais provável do crime, conforme vários historiadores e reportagens publicadas na época, foi passional.

Dias antes do crime, o jornal aliado na Paraíba a João Pessoa, A União, havia publicado a correspondência íntima entre Dantas, o advogado que matou o político, e a sua namorada Anayde Beiriz.
Revoltado, Dantas surpreendeu João Pessoa na Confeitaria e Café Glória, no Recife, e o assassinou com tiros à queima-roupa.

Primeira página da Folha da Manhã sobre a morte de João Pessoa

4.ago.1954 – Atentado contra Lacerda

Na madrugada de quarta-feira, o jornalista e político Carlos Lacerda, maior opositor do presidente Getúlio Vargas e que fazia ferrenha campanha contra Getúlio no jornal Tribuna da Imprensa, de sua propriedade, foi atingido por um tiro no pé quando chegava ao número 180 da rua Tonelero, em Copacabana (Rio), onde morava.

Os disparos, vindos de um carro, atingiram também o major da Aeronáutica Rubens Vaz, que fazia a segurança de Lacerda com outro oficial. Vaz foi morto com dois tiros.

De acordo com o inquérito policial, o mandante do crime foi Gregório Fortunato, chefe da Guarda Pessoal de Vargas.

4.dez.1963 – Morte do senador José Kairala

Durante uma discussão no Senado, o senador Arnon de Mello, pai do ex-presidente e atual candidato ao governo de Alagoas Fernando Collor de Mello, matou por engano o senador José Kairala com um tiro no abdômen.

O alvo do disparo era o senador Silvestre Péricles, que já havia ameaçado Arnon durante seu discurso na Casa.

Tanto Arnon quanto Péricles, que também estava armado, foram presos em flagrante por decisão do Senado. Poucos meses depois, o Tribunal do Júri de Brasília votou pela inocência dos senadores.

18.dez.2006 – ACM Neto é esfaqueado

A pensionista Rita de Cássia Sampaio de Souza utilizou uma peixeira de 40 centímetros para esfaquear o deputado federal Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL), quando o parlamentar deixava seu escritório no bairro da Pituba, em Salvador.

Ele disse estar revoltada com o aumento salarial dos deputados. ACM Neto foi atingido nas costas, quando já estava sentado em seu carro, mas se recuperou.

20.out.2010 – Objeto jogado em José Serra

Durante a campanha presidencial em 2010, o candidato José Serra (PSDB) foi atingido por um objeto circular e transparente durante confusão no Rio de Janeiro.

Ele foi a um hospital onde passou por uma tomografia e cancelou a agenda no período da tarde. Com base em uma reportagem do SBT mostrando o tucano sendo atingido por uma bolinha de papel, Lula ironizou o incidente no dia seguinte.

No entanto, imagens gravadas pela Folha indicavam que o vídeo do SBT mostrando a bolinha de papel atingindo Serra é anterior a arremesso de um outro objeto.

28.set.2016 – Candidato a prefeito de Itumbiara (GO) é morto

O candidato à Prefeitura de Itumbiara (GO) José Gomes da Rocha (PTB) morreu após ser baleado durante a última carreata de campanha. Ele estava acompanhado do então vice-governador de Goiás e hoje governador do estado, José Eliton, que também foi atingido pelos disparos, mas sobreviveu.

Após o ataque, houve uma troca de tiros. O cabo da Polícia Militar Vanilson Rodrigues, que fazia a segurança do evento, e o autor do atentado, identificado como Gilberto Ferreira do Amaral, funcionário da Secretaria Municipal de Saúde, também morreram na ação.

14.mar.2018 – Vereadora do Rio é assassinada

A vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista do carro que a transportava, Anderson Gomes, foram assassinados na rua Joaquim Palhares, no Estácio, zona norte do Rio.

Um carro parou ao lado deles, disparou e fugiu sem roubar nada. Uma assessora que a acompanhava sobreviveu.

27.mar.2018 – Tiros na caravana de Lula

Dois dos três ônibus da caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foram atingidos por quatro tiros na noite de 27 de março de 2018, no Paraná.

Um dos veículos, que era ocupado por jornalistas e era o último do comboio, teve duas perfurações na lataria —dos dois lados. Outro tiro atingiu de raspão um dos vidros do mesmo veículo. Ninguém se feriu.

O ataque ocorreu na saída da cidade de Quedas do Iguaçu, no Paraná, quando a caravana seguia para Laranjeiras do Sul.