1968: Protesto de atletas americanos mostra o Poder Negro contra o racismo

No dia 16 de outubro de 1968, em uma cerimônia de premiação na Olimpíada da Cidade do México, Tommie Smith e John Carlos subiram ao pódio para ouvir o hino dos EUA, depois de conquistarem ouro e bronze nos 200 metros. E entraram para a história ao erguerem os punhos, com luvas pretas, em uma saudação associada aos Panteras Negras.

O protesto dos dois atletas norte-americanos contra o racismo em seu país ficou marcado como um dos momentos mais importantes do esporte.

Um ano antes, em outubro de 1967, a Folha noticiou um possível boicote -organizado por atletas negros- aos Jogos Olímpicos do México, uma articulação do “Projeto Olímpico para os Direitos Humanos” (OPHR) . “A conduta dos meus patrícios de cor será provavelmente ditada pelos acontecimentos que ocorrerem na América, de agora até os Jogos”, afirmou Tommie Smith.

Sem a adesão de todos os atletas negros que participariam da Olimpíada, o OPHR acabou perdendo a força, mas, com a morte do reverendo Martin Luther King, em abril de 1968, a construção de uma forma de protesto permaneceu na mente de Tommie Smith e John Carlos.

Reprodução da página de Esporte de 4 de maio de 2008

Smith, numa das finais que selecionou os atletas americanos para os Jogos Olímpicos, dedicou sua vitória ao Poder Negro.

O Comitê Olímpico dos EUA -que estava de olho em Tommie Smith, John Carlos e Lee Evans- esperava uma possível ausência dos atletas negros vencedores na cerimônia de entrega das medalhas, o que representaria uma humilhação para os EUA.

“A discriminação é um problema social e não deve atingir o esporte. Sei que houve ameaça de boicote e que só podemos contar com todos os negros porque não houve unanimidade entre eles […] Parece que farão novos protestos, mas não sei e nem quero saber em que consistirá esse protesto”, disse Payton Jordan, técnico-chefe da equipe americana, antes do início da Olimpíada.

E o dia chegou. No pódio, que ficou registrado para sempre, o atleta australiano Peter Norman, ganhador da medalha de prata, aderiu ao protesto e,  assim como Tommie Smith e John Carlos, usou no peito o símbolo do OPHR. Seguindo o conselho de Norman, os americanos dividiram o único par de luvas disponível -por isso um levantou o braço direito, e o outro, o esquerdo.

John Carlos, de chapéu, deixa a Vila com a mulher após expulsão (AFP)

A manifestação dos três atletas causou retaliações. Tommie Smith e John Carlos foram suspensos da equipe dos EUA e excluídos dos Jogos Olímpicos. O australiano branco Peter Norman foi jogado no ostracismo em seu próprio país. O atleta morreu em 3 de outubro de 2006 de um ataque cardíaco. No sepultamento de Peter Norman, Smith e Carlos carregaram o caixão de seu companheiro de luta.

Em 2016, numa recepção na Casa Branca, o presidente Barack Obama homenageou os dois medalhistas olímpicos que levantaram seus punhos contra o racismo.

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