Hipopótamos, fogueira de dinheiro e prisão de luxo marcaram o traficante Pablo Escobar, morto há 25 anos

Quando estava em cima do telhado durante uma fuga, na tarde de 2 de dezembro de 1993, o mais famoso narcotraficante do mundo, o colombiano Pablo Escobar Gavíria, foi alvejado e morto, em Medellín.

Ele tentava escapar de um cerco montado por forças do Exército e da polícia, conforme consta a versão oficial.

O cartel da cidade, liderado por Escobar, chegou a responder por cerca de 80% do fornecimento de cocaína ao Estados Unidos, segundo dados da DEA, a agência norte-americana de combate às drogas.

Estima-se que a organização criminosa tenha sido responsável pela morte de mais de 4.000 pessoas.

O traficante estava foragido desde julho de 1992, quando tinha escapado de uma prisão em Envigado (a cerca de 20 quilômetros de Medellín).

A cadeia em que ficou (conhecida como La Catedral) poderia ser mais comparada a um luxuoso hotel do que a um centro de detenção.

A imprensa colombiana divulgou que os traficantes teriam à disposição, de dentro do cárcere, banheira com hidromassagem, televisão de 60 polegadas, videocassete, telefones celulares e armas.

Foi Escobar quem teria mandado construí-la, já projetando a possibilidade de se entregar para a polícia, o que ocorreu ao obter a garantia de que não seria extraditado aos Estados Unidos.

Edição da Folha de 20 de junho de 1991

Ficou 13 meses detido. Só optou pela fuga quando soube que seria transferido de penitenciária, depois que seus privilégios se tornaram público.

Fogueira de dinheiro

Para escapar da polícia e de seus inimigos, Escobar organizou um esquema com esconderijos em várias casas espalhadas pela região.

Em março de 2015, um de seus filhos, Juan Pablo Escobar Henao, falou para a revista colombiana Don Juan que seu pai, quando estava foragido, chegou a fazer uma fogueira com notas de dinheiro, em um total de US$ 2 milhões, por causa do frio intenso.

Isso ocorreu quando a família estava escondida em uma habitação rústica, em uma das montanhas que rodeiam Medellín. A polícia havia armado um bloqueio na área, e eles não poderiam deixar o local naquele momento.

Segundo o filho, a sua irmã começou a sentir mal por causa da hipotermia. O pai, então, decidiu queimar dois sacos de dinheiro para aquecê-los.

Pablo Escobar foi muito rico. Seu nome constou na lista de bilionários da revista Forbes por sete anos, de 1987 a 1993. Na primeira edição, a publicação informou que o traficante recebia a maior fatia, estipulada em 40%, dos negócios do Cartel de Medellín.

A revista estimou que, ao longo de 1987, o criminoso teria movimentado sozinho US$ 3 bilhões (cerca de R$ 11,56 bilhões) e o seu patrimônio líquido seria de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 7,71 bilhões).

Fortuna que começou a ser formada na segunda metade da década de 1970. Em 1980, ele já tinha sua própria organização para o envio de drogas aos Estados Unidos.

Juan Pablo Escobar Henao passou a adotar o nome de Sebastián Marroquín depois da morte de seu pai (foto: Enrique Marcarian – 6.nov.2009 / Reuters)

Hipopótamos

Com dinheiro em abundância, Escobar comprou mansões, fazendas, edifícios de apartamentos, escritórios e obras de arte. Uma de suas investidas foi montar um zoológico particular na Hacienda Nápoles, onde também tinha uma luxuosa casa.

Comprou quatro hipopótamos, que se adaptaram bem ao clima e procriaram bastante. Com os anos, os animais viraram uma preocupação na região.

O pesquisador David Echeverri, de uma agência ambiental do governo colombiano, disse para o site da revista National Geographic Brasil que o problema ainda persiste.

Em entrevista publicada em agosto de 2018, Echeverri afirmou que entre 26 e 28 hipopótamos vivem no lago da Hacienda Nápoles, mas relatou que há evidências de que pequenos grupos ou animais solitários tenham migrado pelo rio Magdalena e ido para outras áreas.

“É possível que haja até 40 hipopótamos na região. Em dez anos, este número pode chegar a quase 100 se não forem administrados”, afirmou o pesquisador.

Sem símbolos

Assim como a Hacienda Nápoles, há outros lugares relacionados a Escobar, que atraem pessoas curiosas sobre a vida do traficante.

Como mostrou a reportagem da jornalista Sylvia Colombo, na edição de 9 de outubro de 2018 da Folha, Medellín lançou ofensivas para apagar os símbolos do auge de Escobar.

O edifício Mônaco, onde a família do traficante morou, vai dar lugar a um memorial para as vítimas. O prefeito da cidade, Federico Gutiérrez, foi quem iniciou a demolição simbólica do prédio.

“Apagar o passado é impossível, devemos aprender com ele e construir uma melhor cidade a partir do que aprendemos perdendo tantos seres queridos”, declarou Gutiérrez.

O prefeito Federico Gutiérrez iniciou a demolição simbólica do prédio de Mônaco – Reprodução