Roubo da taça Jules Rimet na sede da CBF completa 35 anos
Em 1983, cerca de 13 anos depois de ter ajudado a seleção brasileira a ganhar a Copa do México, o ex-volante Clodoaldo tomou um susto em uma manhã ao ler a notícia bombástica no jornal: a taça Jules Rimet foi roubada da sede da CBF, no Rio de Janeiro.
“Fiquei espantado na hora. É uma coisa absurda e inexplicável. Aquela taça representava muito para o Brasil e para todos os que gostam de futebol”, disse o ex-jogador para a reportagem do Banco de Dados Folha.
A taça Jules Rimet foi conquistada, em definitivo, pela seleção no dia 21 de junho de 1970, com a goleada de 4 a 1 sobre a Itália na final do Mundial, no estádio Azteca, na Cidade do México.
Conforme as regras da Fifa, a primeira equipe que vencesse a Copa três vezes ficaria com o troféu. E o Brasil já havia triunfado em 1958 e 1962.
“Quando fomos campeões, a taça passou pelas mãos dos jogadores em campo. Foi muito emocionante quando a segurei. Em um momento como aquele, a gente nem repara direito [nos detalhes da taça]. Mas a Jules Rimet, realmente, era linda”, relatou.
Nesta quarta-feira (19), o sumiço do troféu completa 35 anos. O seu paradeiro é ainda um mistério, mas a versão mais difundida é a de que ela foi derretida.
“Duas datas ficaram marcadas. Uma alegre, do dia da conquista do Brasil no México, e a outra triste, do dia do roubo”, declarou Clodoaldo.
A taça tinha 35 centímetros de altura, pesava aproximadamente 3,8 quilos e representava a deusa grega da vitória. Era feita de prata, coberta com ouro, e era fixada em uma base de pedra semipreciosa. Também havia placas de ouro com os nomes dos países campeões.
A primeira Copa foi realizada em 1930, e os jogadores do Uruguai, país que sediou o Mundial, foram os vencedores, recebendo o troféu.
Em 1934, a taça passou para as mãos dos italianos, campeões da Copa em seu país. A Itália voltou a repetir o feito em 1938, quando conquistou o torneio na França.
Por causa da Segunda Guerra, a competição não foi realizada nos anos 40.
De acordo com a Fifa, durante o conflito o precioso troféu chegou a ficar escondido dentro de uma caixa de sapatos, em baixo da cama do então vice-presidente da entidade, o italiano Ottorino Barassi. A intenção do cartola foi impedir que a taça fosse tomada pelos soldados que ocupavam o seu país.
Depois da guerra, a Fifa decidiu batizar o troféu com o nome de Jules Rimet, em homenagem ao dirigente idealizador da Copa. O torneio voltou a ser realizado em 1950 no Brasil.
A base da taça foi trocada em 1954, por precisar de mais espaço para gravar os nomes dos times campeões. Uma nova parte, maior, foi colocada como suporte.
Furto em Londres
Em 1966, a Copa seria disputada na Inglaterra, e a Fifa autorizou que taça ficasse exposta em um evento em Londres.
A taça deveria permanecer em uma caixa de vidro fechada e ficar sob vigilância o tempo inteiro. Mas não foi isso o que ocorreu. No dia 20 de março daquele ano, no período em que a exposição estava fechada, alguém entrou pelas portas dos fundos e furtou a Jules Rimet.
Não foram os agentes da famosa Scotland Yard (polícia metropolitana de Londres) quem encontraram o troféu, mas, sim, o cachorro Pickles e o seu dono David Corbett.
O animal começou a farejar um pacote diferente (um objeto estava revestido por jornais e amarrado por barbantes) perto da roda de um carro.
Corbett disse que inicialmente pensou que fosse uma bomba, mas que ficou tomado pela curiosidade. Foi assim que a taça foi encontrada.
“Eu rasquei [o pacote] um pouco em baixo e havia um disco simples. Então, rasguei em volta e lá estava escrito Brasil, Alemanha, Uruguai [nomes dos países campeões grafados no troféu]”, afirmou Corbett para o site da Fifa.
No dia 30 de julho de 1966, o objeto achado por Pickles seria erguido pelo capitão da seleção inglesa, Bobby Moore, após a vitória sobre a Alemanha na final do Mundial.
Brasil
A última Copa com a Jules Rimet foi a de 1970 no México, quando Clodoaldo, Gérson, Pelé e seus companheiros brilharam. Com o tricampeoanto brasileiro, esse troféu foi entregue para a CBF e um novo foi criado para o Mundial seguinte.
Diferentemente da primeira taça, o novo troféu, chamado de Copa do Mundo Fifa, não fica, em definitivo, com nenhuma seleção. Muda de posse, sempre quando surge um novo campeão.
A taça Jules Rimet foi roubada no dia 19 de dezembro de 1983 no prédio da CBF, que ficava rua da Alfândega, no Rio de Janeiro.
Segundo relatos, ela ficava exposta na sala de reuniões, no nono andar do prédio, em uma vitrine de vidro que seria a prova de bala. Só que esse vidro estava instalado em uma moldura de madeira, podendo ser arrombado.
Já a réplica desse troféu, que também continha ouro e era usada para substituir a original em viagens, estava guardada em um cofre de aço.
Para invadir o prédio, os ladrões renderam um vigia.
A edição da Folha de 21 de dezembro de 1983 informou que os policiais consideraram precárias a segurança da vitrine em que estavam a Jules Rimet e os outros três troféus roubados na ação.
O então presidente da CBF, Giuliete Coutinho, rebateu e disse que precária era a segurança oferecida pela polícia aos cidadãos.
“O serviço de segurança que eles oferecem é praticamente mínimo, e agora vêm nos criticar. A taça Jules Rimet estava onde sempre esteve desde que foi conquistada pelo Brasil em 1970”, disse o dirigente, na época.
Segundo o presidente da CBF, a taça estava segurada em aproximadamente Cr$ 30 milhões (R$ 375 mil), pois era esse o valor correspondente à parte em ouro (1,8 kg).
Em 12 de maio de 1988, a Folha divulgou que a Justiça condenou a nove anos de prisão Sérgio Pereira Ayres (conhecido como Sérgio Peralta), José Luiz Vieira da Silva (Luiz Bigode) e Francisco José Rocha Rivera (Chico Barbudo), acusados de terem roubado a Jules Rimet. Já Juan Carlos Hernandes pegou a pena de três anos de prisão como receptor.
Conforme texto publicado na Ilustríssima em 25 de maio de 2014, assinado por Anélio Barreto, Peralta foi preso em 1994 e ganhou liberdade condicional quatro anos depois. Chico Barbudo morreu assassinado em 1989. Luiz Bigode foi capturado em 1995 e ganhou liberdade condicional após três anos. Já Hernandes foi preso em 1998, mas por tráfico de drogas, e não por causa do roubo na CBF.