Só 2 presidentes receberam e passaram faixa no período pós-ditadura militar

Rodolfo Stipp Martino e Luiz Carlos Ferreira

Dos sete presidentes que o Brasil teve entre 1985 (com o fim da ditadura militar) e 2018, apenas dois receberam a faixa presidencial de seus antecessores e a entregaram, após terminarem seus governos, para os seus substitutos durante as cerimônias de posse em Brasília.

Isso ocorreu com Fernando Henrique Cardoso e com Luiz Inácio Lula da Silva. Ambos governaram por dois mandatos.

FHC recebeu a faixa de Itamar Franco em 1995 e a passou para Lula em 2003. Já o petista a entregou para Dilma Rousseff, a sua herdeira política, em 2011.

Veja como foram as  posses dos presidentes:

Sarney

Em uma cerimônia de apenas 20 minutos, iniciada às 10h15 de 15 de março de 1985 no Congresso Nacional, José Sarney foi empossado no cargo de vice-presidente da República. Em seguida, como o presidente eleito Tancredo Neves estava doente, ele assumiu a Presidência da República. Foi uma sessão rápida e sem discurso.

A saída do Congresso, Sarney deveria passar em revista a tropa, mas a presença de uma multidão de cerca de 30 mil pessoas, conforme a Folha publicou na ocasião, impediu que isso ocorresse. Antes de entrar no carro para ir ao Palácio do Planalto, ele acenou para as pessoas que estavam no gramado do Congresso e ouviu como resposta em coro: “Tancredo, Tancredo”.

O ex-presidente João Baptista Figueiredo se recusou a passar a faixa para Sarney e decidiu não participar das cerimônias de sucessão, preferindo acompanhá-la pela televisão.

Na madrugada anterior à posse, houve muita apreensão já que Tancredo estava internado no hospital. O próprio Sarney achava inicialmente que a Presidência deveria ser assumida pelo presidente da Câmara, Ulysses Guimarães. Mas essa solução foi rejeitada pela maioria dos parlamentares, liderados por Ulysses.

Collor

Fernando Collor tomou posse às 9h58 de 15 de março de 1990 e fez um discurso de 54 minutos, priorizando o combate à inflação como objetivo de seu governo.

Às 11h25, no Palácio do Planalto, ele recebeu de José Sarney a faixa presidencial e mostrou estar emocionado. Os dois, que eram adversários políticos, trataram-se de forma protocolar.

“Transmito ao doutor Fernando Collor de Mello, empossado pelo Congresso, a chefia do Estado e a chefia do governo”, disse Sarney. Cerca de 600 pessoas assistiram a solenidade através de três telões instalados no Congresso.

Eles se despediram às 11h34, e o ex-presidente desceu a rampa do Planalto. Já Collor retornou para assinar o termo de sua posse e dos ministros e depois foi para o parlatório, onde discursou. Ele foi o primeiro presidente a usar o parlatório no dia da posse depois de Jânio Quadros em 1961.

De todos os membros das representações estrangeiras (121 ao todo), o ditador cubano Fidel Castro foi quem mais atraiu a atenção do público. Ele foi também o estrangeiro mais aplaudido pelos convidados, ao aparecer no salão nobre do Planalto e o que mais alvoroçou deputados e senadores.

Itamar

Primeiro presidente eleito diretamente após a ditadura militar, Collor renunciou ao seu mandato no dia 29 de dezembro de 1992. O Congresso foi comunicado de sua decisão às 9h34, 21 minutos após o início da sessão do processo para seu impeachment no Senado.

Dessa forma, Itamar Franco tornou-se o sétimo vice a assumir a Presidência do Brasil. Ele assinou o termo da posse no mesmo dia às 13h10. A cerimônia foi breve.

Quando Itamar entrou no plenário, estudantes “caras-pintadas” cantaram das galerias o Hino à Independência e puxaram refrão: “O povo unido jamais será vencido.”

O novo presidente não fez discurso, apenas leu o “compromisso de posse”. Depois disso, a plateia cantou o Hino Nacional. Durante a saída do presidente, que fez carreira em solo mineiro, novo coro surgiu: “Ô, Minas Gerais, quem te conhece…”

FHC

Fernando Henrique Cardoso virou presidente da República às 16h41 de 1º de janeiro de 1995, quando ele e seu vice, Marco Antônio de Oliveira Maciel, foram declarados empossados pelo então presidente do Senado, Humberto Lucena (PMDB-PB).

Depois, FHC foi ao parlatório do Palácio do Planalto, ainda coberto por um plástico ainda marcado pelas gotas da chuva que caiu antes da cerimônia. Lá, FHC recebeu de Itamar a faixa presidencial e também um prolongado abraço. Os dois deram-se as mãos e ergueram os braços.

Essa foi a primeira vez que Itamar usou a faixa (ele havia recusado nos dois anos de Presidência a ir aos desfiles de Sete de Setembro com a faixa sobre o paletó). De acordo com dados da Polícia Militar, menos de 10 mil pessoas estiveram na Praça dos Três Poderes no dia da cerimônia.

A segunda posse de FHC foi em 1° de janeiro 1999 às 17h05 e acabou sendo mais simples do que a primeira. Dois fatores pesaram: a crise econômica e o fato de não ocorrer a transmissão de cargo de um presidente para outro.

Nas ruas, pouco mais de 1.500 pessoas acompanharam as solenidades. Nem o plenário da Câmara dos Deputados ficou lotado para a cerimônia da posse.

Lula

A posse de Luiz Inácio Lula da Silva em 1º de janeiro de 2003 foi considerada como, até então, a maior manifestação popular da história das cerimônias do gênero em Brasília.

Ele foi empossado às 15h06, em cerimônia no Congresso Nacional. O seu pronunciamento enfatizou o combate à fome, convocando a população a um “mutirão nacional”

O dia foi marcado por informalidades e por quebras de protocolos. Uma mulher, por exemplo, conseguiu driblar a segurança e tirar uma foto com Lula depois que ele desceu a rampa do Congresso.

Na hora de transmissão de faixa, os óculos de FHC caíram e Lula abaixou-se para pegá-los. Na sequência, o Hino Nacional foi tocado. De acordo com a Defesa Civil, 70 mil pessoas acompanharam as solenidades.

FHC disse que se emocionou ao passar a faixa. “Praticamente nós dois choramos. Fiquei muito emocionado quando dei um abraço no Lula também”, afirmou o tucano. “Ele [Lula] me disse: ‘Você tem um amigo aqui’”, contou.

Assim como ocorreu com FHC, a festa da posse do segundo mandato de Lula, no dia 1º de janeiro de 2007, também foi mais esvaziada do que a primeira, atraindo cerca de 10 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar.

Jornalistas, funcionários de vários setores e convidados chegaram até a serem autorizados a entrar no plenário da Câmara para sentar nas cadeiras reservadas aos deputados, evitando um constrangimento maior na cerimônia.

Dilma

No dia 1ª de janeiro de 2011, pela primeira vez na história do Brasil uma mulher recebeu a faixa presidencial: Dilma Rousseff.

Ex-presa política, ela foi declarada empossada às 14h52 por um antigo integrante do campo político da ditadura que combateu, o então senador José Sarney. Em seu discurso, chorou quando homenageou os que “tombaram pelo caminho”, referindo-se às vítimas da ditadura.

Por causa de uma tempestade, Dilma não pôde usar um carro aberto no desfile até o Congresso. Mas a chuva cessou no trajeto até o Palácio do Planalto e no momento de subir na rampa. Segundo a Folha informou, a cerimônia foi assistida por cerca de 30 mil pessoas.

Quando assumiu o seu segundo mandato, em 1º de janeiro de 2015, Dilma prometeu ajustes na economia sem trair compromissos sociais e submeter a população ao “menor sacrifício possível” para o país crescer. A solenidade levou um público de cerca de 15 mil pessoas à Praça dos Três Poderes.

O ex-presidente Lula teve uma passagem discreta pela cerimônia. Ele não compareceu à solenidade no Congresso. Ficou esperando em uma sala da Presidência até que ela chegasse ao Palácio do Planalto. Circulou entre convidados, cumprimentou Dilma, assistiu ao discurso e saiu antes da posse dos ministros.

Temer

O Senado destituiu Dilma da Presidência em 31 de agosto de 2016 após um processo de impeachment, fazendo com que Michel Temer assumisse, de vez, o poder. Ele já exercia o cargo interinamente desde maio daquele ano.

Após ser notificada, Dilma disse que estava vivendo o segundo golpe de sua vida, em referência ao de 1964.

A posse de Temer ocorreu às 16h49 em um Senado lotado. À noite, em um pronunciamento em cadeia nacional de TV e rádio, o novo presidente prometeu buscar a reconciliação e a pacificação nacional.

No mesmo dia da posse, ele já viajou para a China para reunião do G20 (grupo das maiores economias do mundo).