1968: Três meses após sua morte, Otis Redding chega ao topo das paradas

A história da música está repleta de mortes precoces, seja por uso de drogas ou álcool –caso de Janis Joplin e Amy Winehouse, por exemplo–, seja por tragédias, como quedas de avião –caso de Buddy Holly, Ritchie Valens e J. P. “The Big Bopper”.

Com Otis Redding, aconteceu o mesmo e sem ele conhecer o sucesso absoluto. Há 50 anos, a música “(Sittin’ On) The Dock Of The Bay” chegava ao topo das paradas, e o álbum “The Dock of the Bay”, gravado em dezembro de 1967, alcançava 1 milhão de cópias vendidas –justamente três meses após sua morte.

Redding tinha apenas 26 anos quando o pequeno avião em que viajava, juntamente com a banda The Bar-Kays, caiu no lago Monona, vizinho à cidade de Madison, no estado americano de Wisconsin.

Até aquele momento, o cantor e compositor de soul, nascido na Geórgia –assim como seu ídolo, Little Richard–, saira de seu estado rumo ao Tennessee, celeiro da música popular americana, desde a explosão do rock na década de 1950 para tentar o reconhecimento por seus trabalhos.

Em 1962, gravou duas canções na famosa gravadora de Memphis, a Stax: “Hey Hey Baby” e “These Arms of Mine”. Esta segunda se tornou seu primeiro grande sucesso, impulsionando a venda de cerca de 800 mil cópias –a canção acabaria incluída em dois filmes protagonizados por Patrick Swayze, “Dirty Dancing” e “Matador de Aluguel”, ambos dos anos 80.

Suas letras, sua voz e sua interpretação começaram, então, a chamar a atenção de músicos e executivos de gravadoras. Para o autor do livro “Respect Yourself: Stax Records and the Soul Explosion”, Robert Gordon, “Otis tocava o coração do desejo”. “Ele interpretava canções sobre o amor, mas evocava a pungência de sua época, das pessoas sendo usadas, mas querendo um abraço. Negros, brancos –não importa a raça do ouvinte, só a empatia.”

Seu primeiro álbum “Pain in My Heart” (com 12 faixas), lançado em janeiro de 1964, marcou a grande virada na carreira. Nenhuma canção foi um sucesso comercial, mas duas coisas chamaram a atenção no disco: os músicos de estúdio, liderados por Booker T., e a releitura de outras canções de sucesso que Redding começava a mostrar.

Do álbum, duas músicas se destacaram, além da canção-título. Foram “Louie Louie”, de Richard Berry, gravada em 1957, e que estourou com a banda The Kingsmen e “Lucille”, do mesmo ano, gravada por seu conterrâneo Little Richard.

Depois dessas, Redding faria outras releituras. As mais famosas foram “Shake”, de Sam Cooke (pioneiro da soul music que o influenciou), “Day Tripper”, dos Beatles, e “Satisfaction”, dos Rolling Stones.

E Redding ainda exibiu outras habilidades. Além de cantar e compor, também foi produtor, arranjador e caçador de talentos. Não só suas músicas emplacavam nas paradas –embora sem serem nº 1– mas também suas regravações. E até composições próprias, como “Respect”, criada em 1965, fizeram sucesso. Mas esta, especificamente, não na sua voz, mas com Aretha Franklin.

Em 17 junho de 1967, apresentou-se no Monterey Festival, na Califórnia, que teve entre seus artistas Janis Joplin, Jimi Hendrix, Jefferson Airplane e Ravi Shankar. Foi escalado para fechar a segunda noite, no sábado, e teve chance de mostrar para a multidão (predominantemente branca) tudo o que sabia. Redding executou “Satisfaction”, “Respect”, “I’ve Been Loving You Too Long” e com uma performance carismática ganhou a plateia.

O jornalista Stanley Booth o entrevistou para a revista Saturday Evening Post e lembrou que “Monterey teve um efeito poderoso em Otis”. “Ele viu uma enorme multidão de jovens brancos ficarem loucos por ele e começou a acreditar que poderia seguir os passos de Sam Cooke e Ray Charles”.

Em outubro do mesmo ano, os leitores da revista britânica Melody Maker o elegeram “vocalista nº 1 do mundo”. Pela primeira vez em dez anos, o prêmio deixava de ser entregue a Elvis Presley.

Quando “(Sittin’ On) The Dock Of The Bay” ficou pronta, Redding não sabia o que estava por vir. Nem o acidente de avião três dias depois nem o disco de ouro em março de 1968. A canção está presente em inúmeras séries de TV, jogos de videogame e interpretadas em programas de calouros.

Redding foi incluído no Rock and Roll Hall of Fame em 1989 e quem fez a apresentação de seu nome e importância para a música foi Little Richard.