1968 – DA 21ª À 23ª BOMBA: Após explosões no Dops e em fóruns, polícia prende grupo de extrema direita
A madrugada de 19 de agosto de 1968 foi muito agitada para os policiais em São Paulo. A partir das 3h, houve uma sequência de três explosões em locais relevantes para o poder público.
Um carro-bomba, cheio de dinamites, foi detonado na frente do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) e dois artefatos foram jogadas nos prédios dos fóruns da Lapa e de Santana.
Apesar de o ataque ter sido de grande potência, só houve vítimas com ferimentos leves.
Com essa ação, a região metropolitana de São Paulo passou a registrar, pelo menos, 23 casos de bomba somente em 1968. Essas histórias estão sendo resgatadas pelo Banco de Dados e publicadas no Blog do Acervo Folha.
Após tantos ataques, a polícia prendeu um grupo de extrema direita e o apontou como responsável por, pelo menos, 13 ações com bombas, inclusive as três do dia 19 de agosto.
A maior explosão daquela madrugada ocorreu no largo General Osório a cerca de 50 metros do Dops. A bomba estava dentro de um automóvel Aero Willys, de cor verde.
Esse carro e outros dois, que estavam parados ao seu lado, ficaram destruídos. Estilhaços dos veículos foram encontrados até a 150 metros.
O estouro destruiu todos os vidros do prédio do Dops e deixou um policial ferido, o sentinela Paulo Roberto Santos. Com o impacto da explosão, ele foi jogado para trás e teve a perna cortada.
Um hóspede de um hotel da região também se feriu. Jeronimo Moreira Neto foi atingido por um estilhaço de vidro na testa enquanto dormia. Passou pelo Pronto-Socorro da Barra Funda e depois foi ao Dops.
A cerca de cinco quilômetros dali, o Fórum Distrital de Santana também foi alvo de um ataque apenas poucos minutos depois. Uma bomba destruiu a fachada do local.
O soldado da Força Pública Isidoro Luís Inoe estava dormindo nos fundos do prédio e caiu da cama com o estouro. Ele, ainda atordoado e usando apenas um shorts, foi até a frente do prédio e verificou o que tinha acontecido.
As casas vizinhas do fórum também sofreram danos. A deslocação de ar quebrou muitos vidros das residências.
O terceiro e último atentado daquela madrugada ocorreu no Fórum Distrital da Lapa, localizado a dez quilômetros do de Santana e a oito quilômetros do Dops.
A bomba foi jogada na parede lateral do edifício, provocando um rombo no concreto. Uma agência bancária, instalada no prédio vizinho, ficou com sua entrada bastante danificada.
A primeira viatura que chegou ao local teve que prestar socorro a um casal de namorados que estava passando próximo ao local. Eles ficaram levemente feridos.
A moradora Neusa Pinto Magalhães, que residia perto do fórum na Lapa, disse que a explosão deixou a rua sob muita fumaça.
“Eram 3h15, mais ou menos. Eu acordei um pouco antes. Repentinamente, ouvi uma violenta explosão, as paredes tremeram, os vidros se partiram”, afirmou.
Investigação
Ao analisar os destroços, a polícia verificou que o carro que explodiu era o mesmo utilizado por ladrões em um assalto a um banco em Perus, no dia 1º de agosto daquele ano. O automóvel havia sido roubado e teve a placa trocada.
Em 22 de agosto, as forças de segurança informaram ter detido alguns membros do grupo que organizou os atentados ao Dops e aos fóruns da Lapa e Santana, além do assalto ao banco de Perus.
As investigações prosseguiram. E, após depoimentos de 19 presos, o Exército apontou o escritor Aladino Félix (que usava o codinome de Sábato Dinotos) como o chefe da quadrilha. O grupo de extrema direita contava com a participação de militares e de civis.
O motivo era político. Segundo a polícia, eles formam um movimento que pretendia levar Félix a ser governador de São Paulo e fazer com que o soldado Gesse Candido de Morais se tornasse comandante da Força Pública.
Apenas parte dos adeptos desse movimento, porém, teria participado das ações violentas. As autoridades acreditavam que eles organizaram outras dez ações com explosivos em pontos estratégicos:
- Quartel-general da Força Pública
- Departamento de Alistamento da Força Pública
- Bolsa de Valores
- Pontilhão da ferrovia Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, no Piqueri
- Passagem subterrânea da ferrovia Estrada de Ferro Sorocabana, na Lapa
- Passagem de nível da Estrada de Ferro Central do Brasil, na Penha
- Trem da da Estrada de Ferro Central do Brasil
- Oleoduto em em Utinga, na cidade Santo André
- Estátua de Duque de Caxias, na praça Princesa Isabel
- Palácio do Governo
Félix havia ganhado notoriedade com seus estudos sobre disco voador anteriormente. Chegou a dizer a um jornalista que tinha feito uma viagem de ida e volta ao planeta Vênus. Também foi divulgado na época que ele havia criado uma nova língua, misturando o hebraico, o grego e o latim, na qual ele teria aprendido de Deus.
De acordo com a polícia, o plano do preso era primeiro atingir o poder do estado de São Paulo e, depois, dominar o país.
Em depoimento ao juiz, Félix negou que tenha participado diretamente de um atentado a bomba. No entanto disse que os atos eram determinados pela Casa Militar da Presidência da República e que ele era apenas o intermediário do grupo.
Segundo ele, o objetivo era apenas criar tensão para possibilitar uma ditadura mais aberta e, por isso, não poderia chamar as ações de “terroristas”.
Félix disse que, quando foi preso, sofreu tortura, com choques elétricos, e que assinou o seu depoimento quando estava semiconsciente.
O general Silvio Correia de Andrade, titular do Departamento de Polícia Federal em São Paulo, desmentiu as falas de Félix. “Está completamente fora da realidade”, disse, sobre o escritor preso.
À parte a prisão de Félix, as forças de segurança se mantinham em alerta e ainda à caça dos autores de outros atendados a bomba.
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1968 – A TERCEIRA BOMBA: Explosão endereçada ao 2º Exército fere 2 pessoas