1968 – DA 24ª À 26ª BOMBA: Após dois meses, explosivos na Água Branca e na Bela Vista voltam a intrigar o Exército

O final de outubro de 1968 marcou a volta dos casos de grande repercussão de bombas em São Paulo. Uma explodiu na loja Sears, na Água Branca (zona oeste), no dia 27, sem provocar vítimas. Outras duas foram encontradas, sem serem detonadas, na Bela Vista (região central), no dia 31.

Essas ações representaram o fim de mais de dois meses sem notícias assim nos jornais naquele ano.

Os últimos haviam sido no dia 19 de agosto, com explosões em frente ao Dops (Departamento de Ordem Política e Social) e nos fóruns da Lapa e de Santana –os três foram de madrugada.

Conforme levantamento feito pelo Banco de Dados, foram feitos, ao menos, 26 registros de bombas, entre março e outubro de 1968 -era o quarto ano dos militares no poder. Essas histórias estão sendo resgatadas e publicadas no Blog do Acervo Folha.

Depois do atentado no Dops, a polícia prendeu um grupo de extrema direita acusado de provocarem, pelo menos, 13 ataques a bomba.

O líder do grupo, o escritor Aladino Félix, afirmou que as explosões eram determinadas pela Casa Militar da Presidência da República e que ele era apenas um intermediário.

Clique na imagem e confira o mapa das bombas em São Paulo em 1968

Quando uma explosão voltou a ocorrer, com o episódio na loja Sears, surgiu novamente a dúvida se havia um cunho político.

Para o delegado Edward Quass, do Dops, o “atentado era obra de pessoas interessadas no endurecimento do regime militar”, independentemente se tivesse sido feito por integrantes extremistas da direita ou da esquerda.

O ataque foi feito de madrugada. Uma bomba explodiu em uma das portas de aço que protegem as vitrines da loja, destruindo vários aparelhos eletrodomésticos. Um cano também foi rompido. A água jorrou pelo local, alagando os porões.

Segundo cálculos dos diretores da Sears, os prejuízos causados eram de mais de NCr$ 30.000 (o que equivaleria a aproximadamente R$ 240 mil).

Os vidros das janelas de uma empresa vizinha quebraram com o deslocamento de ar. Isso também ocorreu em residências próximas.

Foram recolhidos os fragmentos da bomba, uma peça de aço, pedaço de um cano, papéis com o emblema das Forças Armadas e em um deles havia a inscrição: Ministério da Guerra, Fábrica de Explosivos do Exército, Piquete.

A hipótese de que o artefato teria sido lançado por um Volkswagen, que tinha passado momentos antes da explosão, foi deixada de lado, já que a bomba era muito pesada.

Quatro dias depois, a polícia ganhou um outro mistério para tentar desvendar. Duas bombas, de alto poder destrutivo, foram encontradas de madrugada perto de um estacionamento de carros na rua Paim, na Bela Vista.

Elas estavam escondidas embaixo de um monte de pedras, o que, segundo policiais, aumentaria o poder de ação quando explodisse, porque gerariam muitos estilhaços.

Bombas estavam debaixo de um monte de pedras

O Exército não informou como as descobriu lá. Durante a madrugada, oficiais do Serviço Secreto foram até o local,  começaram a a cavar as pedras, cuidadosamente, até que acharam os dois petardos.

Houve um impasse para fazer a remoção das bombas. Os agentes militares queriam que a Polícia Técnica as desmontasse, mas não foram atendidos.

Um engenheiro da Polícia Técnica alegou que elas poderiam explodir ao simples contato com mão e que as Forças Armadas tinham o equipamento necessário para a ação.

Quem fez esse trabalho foi a Polícia do Exército. Nenhum dos oficiais quis fazer alguma declaração para a imprensa, mas eles admitiram que “aquilo era obra de terrorista”.

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